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Che em “Evita”, Fernando Marianno vive primeiro protagonista em 15 anos de carreira

Ator relembrou sua trajetória, falou dos desafios de estrelar um musical ao ar livre e contou sobre funções que concilia com a carreira artística

A convite de Floriano Nogueira, diretor associado de “Evita Open Air”, o ator Fernando Marianno encarou, aos 18 anos, sua primeira audição profissional. Resultado: ele entrou para o elenco do musical “Miss Saigon”. De 2007 para cá, o artista atuou em outras grandes produções, incluindo “Cats”, “Mamma Mia”, “A Família Addams”, “Ghost”, “O Homem de La Mancha”, “Hebe”, “Billy Elliot” e “Donna Summer”, mas é agora, com 33 anos e 15 de carreira, que Marianno dá vida ao seu primeiro protagonista, Che, narrador da história de Eva Perón no musical pioneiro no Brasil por ser montado em grandes proporções ao ar livre. “Esse é meu primeiro grande personagem. Tudo na hora certa. Se você não amar a arte, você não consegue ser artista. Você tem que amar passar por todas as glórias e também pelas coisas ruins. Eu sabia o que eu queria, sinto que esses 15 anos me prepararam para esse espetáculo”, comentou o artista em entrevista ao B!

O interesse pelo teatro surgiu aos 15 anos, quando foi assistir a uma amiga em um espetáculo montado pelo colégio em que estudavam, em São Bernardo do Campo. Nessa época, Manianno se dedicava ao judô. “A coreógrafa desse espetáculo foi a Kátia Barros. Eu me apaixonei pela movimentação dela e quis aprender a dançar. Com 16 anos, fazia judô, ballet e o musical do colégio”, relembrou o ator. A montagem escolar de “Wicked” foi uma das que mais marcou Marianno que, desde então, tem um carinho especial pela obra. Quando foi anunciada a vinda do musical de Stephen Schwartz ao Brasil, o artista, que já seguia carreira profissional, almejou integrar o elenco. “Era um musical que eu queria muito fazer porque fiz no colégio e gosto muito das músicas, mas não passei no teste. Agora está tudo bem, hoje estou trabalhando com a Elphaba (risos).” Atualmente como Evita, Myra Ruiz deu vida à icônica bruxa verde em 2016.  

Desafios do ar livre

Lidando com oscilações climáticas e explorando um palco de 50 metros de largura, Marianno leva uma rotina cheia de disciplina para dar conta do que entrega em cena. Além de cuidar da alimentação e de fazer atividade física, o ator precisou aderir um novo hábito para as apresentações ao ar livre: “Tenho que me hidratar muito. Por show, eu tomo dois litros de água, um em cada ato. Se eu vou para a coxia, eu tomo água. Gasto muita energia no espetáculo, tanto que eu malho na academia, mas não preciso fazer nada de aeróbico porque já faço tudo no palco”. A atual montagem “Evita” foi apresentada pela própria Atelier de Cultura, produtora que apresenta o espetáculo, como uma versão mais ágil do clássico musical de Andrew Lloyd Webber e Tim Rice. Essa dose extra de energia, de fato, está presente no musical e boa parte dela está concentrada no Che de Marianno. A ideia de explorar cada canto do palco foi do próprio artista, que teve sua proposta acatada pelo diretor John Stefaniuk.

Fernando Marianno, John Stefaniuk
John Stefaniuk deu liberdade a Fernando Marianno para compor o Che – Foto: Divulgação/Jairo Goldflus

Esse não é um musical franqueado, que é quando você tem que reproduzir o que foi montado lá fora. A concepção desse espetáculo é totalmente nova. O John deixou na minha mão algumas escolhas e quando fazemos escolhas temos que bancá-las. Eu fiz escolhas difíceis, mas foi um presente ter essa liberdade de poder transitar por esse palco que é enorme. Eu apareço em todos os lugares, eu praticamente não saio de cena. Isso me desgasta muito, mas é muito gratificante. Sinto que conduzo a experiência e faço o meu melhor para isso”, afirmou Marianno. Sem muitas referências de como era Che Guevara, o ator buscou inspirações pessoais para compor o personagem. “Busquei na minha história o que me conecta com ele. A partir dessa conexão, coloquei para fora. Como fiz isso? Busquei personagens que acho interessantes para cada momento do Che. Meu corpo, por exemplo, vai de Jack Sparrow a Raul Seixas, já o tom sarcástico do personagem tem um pouco do Negan, de ‘The Walking Dead’. Vocalmente, nunca tinha cantado rock em um espetáculo, mas sempre tive vontade”, pontuou o artista, que propôs a diretora musical Vânia Pajares incluir alguns drives nas canções que ele interpreta. 

Plano B

Paralelo a atuação, Marianno também é filmmaker, editor, cartomante e estudante de psicologia. Durante a pandemia, ele sentiu na pele os obstáculos que cercaram a classe artística e precisou encontrar um plano B para gerar renda. “Comecei a trabalhar em uma empresa de Sorocaba que é uma empreiteira. Faço filmagem com drone, edição de vídeos para vendas de lotes. Foi algo que surgiu na pandemia e me rendeu um salário que deu para pagar as contas. No início, vivi com sobras do que eu tinha guardado. Foi um ano pagando aluguel assim, só saia, não entrava nada. Foi difícil, tanto que hoje uma das minhas metas é fazer um estudo da minha vida financeira.” Nesse período, Marianno também resolveu fazer um mergulho dentro de si para tentar encontrar algumas respostas como, por exemplo, qual é seu verdadeiro sonho. Foi através dessa experiência pessoal que ele desenvolveu um curso de autoconhecimento que está comercializando chamado “Aprofundar para Submergir”.

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William Amorim

Jornalista com trabalho acadêmico de pesquisa sobre a história do Teatro Musical no Brasil, repórter de Entretenimento/Cultura na Jovem Pan, com passagens pelo Portal iG e pela Editora Globo, jurado do Prêmio DID e colunista do A Broadway É Aqui!

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