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Entrevista: Ana Luiza desengaveta projetos pessoais e relembra momentos especiais da carreira

Atriz e cantora é a nova convidada do B!Cover e bate um papo exclusivo com o B!

Jovem talento do teatro musical brasileiro, Ana Luiza despontou frente ao grande público em 2015, aos 22 anos, na montagem brasileira de “Mudança de Hábito”, no papel da famosa postulante Irmã Maria Roberta, uma personagem que não só alavancou a carreira da atriz como trouxe a ela diversos ensinamentos que a acompanham até hoje, em todos os seus trabalhos, e que nem todo o estudo, dentro e fora do país, havia lhe proporcionando.

Ativa no mercado desde então, passando por montagens de clássicos da Broadway no Brasil e também por produções nacionais e originais, o trabalho mais recente da artista carioca foi em 2019, que lhe trouxe sua primeira protagonista e com ela um novo desafio: viver uma jovem insegura e volúvel na comédia “dark teen” “Heathers”, versão musical do filme de mesmo nome. No palco, Ana interpretou o papel que foi de Winona Ryder nos cinemas, considerado até hoje um marco entre os filmes adolescentes.

Com a pandemia da Covid-19, a artista viu a oportunidade de “desengavetar” novos projetos a seu próprio tempo, o período em casa lhe permitiu novas facetas e o envolvimento em projetos on-line. Em uma entrevista exclusiva ao B!, além de contar como tem sido esses meses longe dos palcos e relembrar momentos deliciosos da carreira, Ana traz um cover inédito para o quadro B!Cover, e que promete surpreender pela escolha! Leia a entrevista completa abaixo!

B! Como e quando a arte entra na sua vida? Quais foram os primeiros sinais que te levaram a buscar por estudos e oportunidades?

AL: Eu obviamente não lembro, mas a minha mãe diz que desde os três anos eu falava para as pessoas que queria ser cantora. Eu sempre amei muito música, filmes musicais, Disney e isso de alguma forma me influenciou. Tiveram dois marcos que me fizeram buscar por estudos. O primeiro foi com 10 anos, quando eu era louca por Sandy & Jr. e minha mãe percebeu que eu conseguia imitar a Sandy. Aí fomos procurar aula de canto e nunca mais parei. O segundo foi a paixão pelo teatro, que eu descobri no curso de canto, com 14 anos quando eles fizeram uma prática de montagem de uma peça e eu me apaixonei por musicais, por dar vida a um personagem, por contar uma história com a música. Foi quando eu comecei a fazer aulas de teatro.

B! Você tem no currículo uma série de estudos, cursos e formações artísticas, nacionais e internacionais, mas também tem formação em uma outra área. Comente um pouco sobre este seu outro lado profissional.

AL: Eu sou formada em Publicidade e Propaganda. Aquela velha história dos pais darem uma pressionada no filho artista pra fazer uma faculdade “plano B” sabe? Mas eu acabei amando o curso e trabalhando na área e achei muito importante ter feito a faculdade, pois eu acabo aplicando muitos conceitos que eu aprendi com a Publicidade na minha vida como atriz. Eu acabei aprendendo a mexer com fotografia, edição de áudio/vídeo, formatação de artes, marketing pessoal, e isso são ferramentas valiosas para um ator. E a ‘Ana Luiza Publicitária’ também acaba usando muito da ‘Ana Luiza Atriz/Cantora’. Enquanto ator/atriz, estamos constantemente desenvolvendo a nossa criatividade, nossa sensibilidade, conexão com o outro, e isso são diferenciais para um bom publicitário.

B! Sua primeira grande personagem te rendeu prêmio, fãs e uma sequência de  oportunidades em outros musicais. O ‘sim’ em “Mudança de Hábito” foi um divisor de águas na sua vida?

AL: Definitivamente SIM. O primeiro “SIM” é muito especial, mas vale lembrar que tem toda uma jornada que não acaba nele. A gente segue em constante busca de outros “SIMs” e o caminho não fica mais fácil. Porém ele mudou minha vida completamente. Eu já tinha voltado há dois anos dos Estados Unidos e estava fazendo todos os testes de musicais que me chamavam. Por dois anos a resposta foi sempre “Não”. Eu continuei estudando aqui e me cobrando ser cada vez melhor, mas toda audição eu batia na trave. Eu já estava meio conformada de que não ia rolar, que talvez não fosse pra ser, e estava seguindo uma carreira na Publicidade, onde estava colhendo muitos frutos. Quando abriu a audição do ‘Mudança de Hábito’ eu nem ia me inscrever, mas felizmente me convenceram e eu fui. E eu inclusive pedi demissão do meu outro emprego para conseguir fazer a fase final das audições. Apostei real. E rolou. 🙂

Ana Luiza como Irmã Maria Roberta em ‘Mudança de Hábito’ | Foto: Arquivo Pessoal

B! Como foram os testes para o papel e o processo de construção da sua Irmã Maria Roberta?

AL: Os testes foram insanos, porque eu fui pra final com material de Irmã Maria Patricia (brilhantemente interpretada pela Andrezza Masseii). Então quando eu cheguei lá e pediram para eu aprender o material da Maria Roberta, me desestabilizou total. Nunca nos meus maiores sonhos achei que iam me ver como Maria Roberta: eu achava que não tinha perfil, acho que a sociedade. num geral, também achava que eu não tinha perfil, então foi um susto enorme. Mas a gente dá uma respirada funda, e vai.

Sobre a construção, eu sou uma pessoa bem nerd e era meu primeiro contato com um processo profissional. Então tudo que eu fiz durante os 2 meses e meio de ensaio (ouso dizer que durante a temporada inteira) foi focado na construção da Maria Roberta. Eu sempre falo que o mais legal do teatro musical é o que cada ator tem de material humano para emprestar ao personagem. Então tentei colocar o máximo de mim nela. E ela acabou me ensinando muita coisa também…

B! E como foi receber o Prêmio Bibi Ferreira pela categoria de ‘Revelação’ no tradicional palco do Theatro Municipal de São Paulo. Qual a importância deste reconhecimento para um início de carreira?

AL: Foi um dia surreal e eu nunca vou esquecer cada detalhe dele. Eu acho que a importância maior nem foi palpavelmente na minha carreira e sim para reconquistar um pouco de confiança em mim mesma. Foi a validação de um trabalho muito duro, de anos de estudo e da devoção que essa carreira exige. Eu sempre duvido muito de mim mesma e isso não vai mudar. Sempre busco melhorar, estudar muito, e nunca acho o suficiente. Mas foi crucial pra mim no início saber que estava no caminho certo.

Ana Luiza premiada Atriz Revelação do Prêmio Bibi Ferreira por ‘Mudança de Hábito’ no Theatro Municipal de SP – 14.10.2015 | Foto Náira Messa


B!
Depois de ‘Mudança de Hábito’ vieram outras produções bastante conhecidas como ‘My Fair Lady’, ‘A Era do Rock’ e ‘A Noviça Rebelde’. Como funciona seu processo de apego e desapego dos trabalhos e papéis? É do tipo que leva um pouco de cada personagem com você e empresta um pouco de você para cada personagem? 

AL: Um pouquinho não, eu falo pro personagem: “me leva por inteiro” hahahahaha.
Sobre despedidas: No fundo eu sou uma pessoa emotiva (a casca virginiana as vezes não deixa aparentar), e eu me apego muito a todo trabalho que eu faço. Então são sempre momentos difíceis. Eu tento ver a beleza em momentos tristes sempre, então eu me permito sentir tudo que vier. Mas como eu disse linhas acima, acho que é uma troca; e nessa troca tão íntima que é a relação entre personagem e ator, sempre acabamos aprendendo algo, sempre saímos transformados de alguma maneira.

B! Antes da pandemia você estava protagonizando a temporada de “Heathers”, uma produção que teve um forte apelo teen, um formato diferente. Como foi essa oportunidade e experiência?

AL: ‘Heathers’ foi intensidade, em todos os sentidos. Acho que se pudermos explicar a adolescência em uma palavra, ‘intensidade’ seria a palavra também. Westerburg foi a nossa casa por 4 meses e eu mergulhei de cabeça nessa experiência. Foi muito legal trabalhar tanto com os amigos antigos mais experientes, quanto com a galera nova que tá chegando, arrasando e viraram grandes amigos também. Era um desafio assustadoramente lindo a nossa rotatividade de elenco: virou um exercício muito gostoso todos os dias estar presente e jogar com as pessoas que estavam ali, que quase nunca eram as mesmas. Me diverti e aprendi muito e acho que isso transparecia.

Ao mesmo tempo, acho importante levar ‘Heathers’ (muito) a sério. É um texto que a primeira vista pode parecer mais um clichê adolescente, porém ele envolve muitas camadas e aborda muitos assuntos polêmicos que dialogam com a realidade dos adolescentes. A Verônica Sawyer foi minha primeira protagonista e eu sabia o peso da responsabilidade que estava nas minhas mãos de contar essa história do jeito certo. Espero que tenha conseguido <3

Ana Luiza como Verônica Sawyer em cena de ‘Heathers’ | Foto: Adriano Doria


B!
Falando em pandemia, como têm passado os últimos meses? O que tem produzido, descoberto, arriscado?

AL: Com os teatros fechados, realmente ficamos sem a possibilidade de continuar os projetos que estavam em andamento. Durante a pandemia, eu meio que decidi focar outras áreas/projetos além dos musicais. Eu tenho feito locuções/jingles remotos, gravo covers, participo de lives, fiz alguns TikToks cantando que geraram uma repercussão legal. Além disso, tirei da gaveta dois projetos que já queria realizar há muito tempo: Estou dando aulas de teatro musical online. Sempre foi um desejo muito forte ensinar o que eu aprendi na faculdade em NY, a AMDA, e tudo que venho aprendendo com a vivência da profissão e a troca tem sido incrível. E o outro projeto é a gravação das minhas músicas autorais, que estou trabalhando remotamente também, gravando os vocais de casa. Mas to fazendo tudo com muito cuidado e carinho, principalmente comigo mesma. Eu não me dei prazos, objetivos, não tenho aquela urgência de gerar conteúdo. Estou deixando fluir com leveza.

B! Você vem conquistando fãs pelo TikTok, tem soltado a voz em apresentações na Internet. Como enxerga a importância das redes sociais e aplicativos neste momento? Acredita que elas sirvam como molas propulsoras para os artistas ou são apenas bons aliados para passar o tempo?

AL: São os dois. Eu acho q sim, pra nós, as redes sociais hoje são ótimas aliadas e ferramentas de trabalho, mas se o conteúdo postado não for genuíno, eu particularmente perco o interesse. Quando postar vira cobrança e o seu objetivo se resume a buscar engajamento e seguidores, “algo de errado não está certo”. Hahahahah. Use a ferramenta com o objetivo de se apresentar pro mundo, mostrar sua individualidade, sua arte, suas paixões, buscar conexões reais. Pra mim é sobre isso.

B! Você comentou sobre as suas composições autorais, que vem atreladas ao lançamento do seu primeiro EP. Fale um pouco sobre este trabalho e sobre o que os fãs podem esperar.

Bom, tenho quatro musicas que estão em processo de gravação. Três delas estarão no EP, que se chama “Até o coração cantar”, e uma vai ser lançada sozinha. As minhas composições sempre surgiram muito naturalmente, da necessidade de por pra fora o que eu estava sentindo. Mas sempre tive receio de compartilhá-las com o mundo exatamente por serem extremamente pessoais. Mas mostrei pra alguns amigos, que amaram e estamos aí na batalha produzindo. As musicas vem de um lugar meu de contar histórias através do cantar, que vem do background de teatro musical, junto e misturado com um pouco de mpbs e bossa. Mais uma das minhas loucurinhas.
Obvio que não estou trabalhando sozinha: a Luisa Phoenix tá coordenando essa produção, o Rodolfo Schwenger tá arranjando uma das faixas. Temos um dueto que canto com o Edmundo Vitor, e a Paula Canterini tá fazendo as artes mais lindas de capa (e inclusive escreveu um conto que serviu de inspiração). Não tenho prazo ainda de lançamento, mas ta ficando lindo demais.

B!Cover: Fale sobre a escolha da música do seu cover. O que te motivou a escolher ela e sua relação com a obra.

Como toda millennial, “Mean Girls” foi um dos filmes mais icônicos da minha adolescência. Eu tinha o DVD, assistia sempre com as minhas amigas, sabia todas as frases icônicas (isso é tão BARRO!), ouvia “my milkshake” no iPod, cantava Beautiful junto com o Damien e tentava aprender a coreo de Jingle Bell Rock. Quando anunciaram o musical, a adolescente dentro de mim urrava de felicidade. E fui assistir na broadway e parecia ter voltado aos 13 anos.

Escolhi essa música por 2 motivos: primeiro porque vocês, do “A Broadway é Aqui” me pediram um cover inusitado e eu sei que cenicamente não sou a melhor opção pra vender a energia ‘queen bee’ que a Regina George precisa ter. Explico isso um pouco melhor no vídeo. E segundo porque fiquei obcecada com a técnica vocal da Taylor Louderman desde que assisti ao vivo, e isso desde então vem sendo meu objeto de estudo. Espero que gostem.

Siga a Ana Luiza nas redes sociais:

Instagram: @analuizaof
TickTok: analuizaof

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Grazy Pisacane

Jornalista Cultural e Assessora de Imprensa, especializada há 10 anos no mercado de teatro musical.

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