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A contribuiçao de Chico Buarque para o teatro musical brasileiro

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Hoje, o “bardo brasileiro” completa 70 anos. Francisco Buarque de Hollanda, ou melhor, Chico Buarque, celebra o seu aniversário refugiado em Paris, escrevendo seu quinto livro, que deve chegar ainda este ano às livrarias. O filho do historiador Sérgio Buarque de Hollanda e da intelectual Maria Amélia Cesário Alvim, é um dos nomes mais prolíficos da música brasileira. Homem de conhecimentos “enciclopédicos”, sua contribuição para cultura nacional se espraia também pelo universo da literatura e dramaturgia.

Desde o começo do ano, sua obra vem sendo homenageada em produções musicais que estão em cartaz, como “Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos”, “Palavra de Mulher” e “O Grande Místico”, e em produções que ainda vão estrear, como “Apesar de Você“, inspirado em Julinho de Adelaide – seu famoso pseudônimo, “Os Saltimbancos Trapalhões” e as remontagens de  “Ópera do Malandro” e “Calabar: o elogio à traição“. Sem sombra de dúvida, quando se pensa em teatro musical nacional a partir da segunda metade do século XX, o primeiro nome a vir à tona é o de Chico Buarque. Seus espetáculos são lembrados e remontados até hoje pela repercussão que tiveram durante às décadas de 1960 e 1970. Em 2001, o compositor surpreendeu a todos com outro musical: “Cambaio”, que também originou um disco com o mesmo nome, ganhador do Grammy Latino de Melhor Álbum de MPB. Não é a toa que neste ano, o homenageado do Prêmio Bibi Ferreira será o compositor.

Conhecido pelo requinte de suas letras, Chico é algumas vezes mencionado como “o Sondheim” brasileiro. Nada que o coloque abaixo do compositor norte-americano, mas o apuro na criação das letras aproxima as obras de ambos compositores. Os versos heptassílabos (com sete sílabas poéticas) de “Geni e o zepelim”, em Ópera do Malandro não negam esta comparação.

Francisco Buarque de Hollanda cresceu entre os livros de seu pai, compartilhando a paixão pela música com as irmãs e também cantoras Miúcha, Ana de Hollanda e Cristina Buarque. Recebeu em casa outras personalidades ilustres da MPB, como Vinícius de Moraes, amigo de seu pai. A partir dos 12 anos, o então jovem Chico começa o seu trabalho como compositor na companhia de suas irmãs. Aos 15, escreve “Pedro Pedreiro”, canção que marcaria para sempre sua obra por ser a primeira em que é possível conferir o estilo genuíno de suas músicas: contar histórias.

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No ano de 1965 faz uma de suas primeiras incursões no universo do “teatro cantado”. À convite de Roberto Freire, então diretor do Teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (famoso Teatro Tuca),  Chico Buarque transforma em música os versos do poema “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de Melo Netto. O sucesso da montagem foi tão grande que rendeu especiais na TV Globo e prêmios internacionais de teatro. Mais foi em 1966, quando o compositor vence o Festival da Música Brasileira com “A Banda”, interpretada por Nara Leão, que Chico é finalmente apresentado ao público brasileiro.

Cena de "Roda Viva", com o ator Rodrigo Santigo carregado pelo elenco
Cena de “Roda Viva”, com o ator Rodrigo Santigo carregado pelo elenco

No ano seguinte, lança sua primeira aposta no universo dos musicais: “Roda Viva”, em parceria com o diretor José Celso Martinez Corrêa. Na trama, a crítica ao universo do ídolos da indústria fonográfica e à Ditadura vigente. O elenco, que teve participação de Marieta Severo e Marília Pêra, sofreu um ataque durante a temporada em São Paulo, de autoria do Comando de Caça aos Comunistas. A violência se repetiria em setembro do mesmo ano, quando a peça chegou ao Rio Grande do Sul.

Quatro anos mais tarde, em parceria com Ruy Guerra, Chico lançaria “Calabar: O elogio da traição”, que também usava linguagem figurada para falar da situação política do país. Após três meses de espera da produção pela liberação da peça, o pedido foi negado pelos censores sem explicação prévia. O espetáculo só seria encenado novamente em 1980, agora permitido pelo governo.

Bibi Ferreira em "Gota d'água"
Bibi Ferreira em “Gota d’água”

Na segunda metade dos anos 1970, mais precisamente em 1975 outra estreia uma das produções de maior sucesso e repercussão de Chico Buarque, agora em parceria com o dramaturgo Paulo Pontes: “Gota d’água“. Inspirada na tragédia grega “Medeia”, de Eurípedes, a peça tem como um de seus destaques, a atuação de Bibi Ferreira, no papel da protagonista Joana.

Também inspirada em textos estrangeiros (“A Ópera dos Mendigos” e “A Ópera dos três vinténs“), “Ópera do Malandro” estreia no ano de 1978, no Rio de Janeiro. Conhecida por ser um dos maiores sucessos do compositor, a peça chegou aos cinemas em 1986, com Edson Celulari, Claudia Ohana e Elba Ramalho. A direção foi de Ruy Guerra, que repetindo a parceria, também dirigiu a peça no teatro.

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Já no início dos anos 1980, Chico encontraria um novo parceiro de trabalho: Edu Lobo. Em conjunto, os dois compuseram a trilha de “O Grande Circo Místico”, inspirado no poema de mesmo nome escrito por Jorge de Lima. O espetáculo era um balé encenado pelo corpo de dança do Teatro Guaíra e que, após a estreia em 1983, ganhou turnê durante dois anos pelo Brasil. As canções foram interpretadas por nomes como Milton Nascimento, Zizi Possi, Simone, Gilberto Gil e Gal Costa.

Em 2014, uma releitura do espetáculo estreou no Theatro Net Rio, sob a direção de João Fonseca e com texto de Newton Moreno e Alessandro Toller. O elenco, conta com Letícia Collin e Gabriel Stauffer, como protagonistas de uma história de amor em meio à guerra, tendo a luta do circo para não sucumbir como pano de fundo.

A contribuição de Chico Buarque para o teatro musical brasileiro vai muito além do que as linhas acima tentam mostrar. Tentar resumir a vastidão de sua obra a um texto é uma tarefa vã, mas vale o esforço do autor. A equipe do B! também propos esse desafio ao elenco de “Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos” e o resultado você confere no vídeo abaixo.
Salve Chico!

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*Os 70 anos de Chico Buarque, que aproveita para comemorar 50 de carreira, serão ainda homenageados na segunda edição do Prêmio Bibi Ferreira, no próximo semestre. A cerimônia premia os talentos do teatro musical brasileiro na cidade de São Paulo.

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Um Comentário

  1. Muito boa sua contribuição para conhecermos e lembrarmos de nossa cultura.Chico é realmente muito bom,quando jovem cantava muitas musicas do disco opera do malandro (joga pedra na jeni…. ) me chamava muito a atenção alguém fazer uma coisa dessa,ficava revoltada com essa maldade. A obra dele e atual,fiquei indignada com uma charge na internet associando a foto de Chico com uma flauta a lei rouanet, como se o uso dessa lei fosse de malandro. A ignorância e ainda muito grande no brasil. Acho que reportagem como essas tem que ser mais intensificadas.

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