Especial DuB!agem: Adriana Quadros

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Por Adriana Quadros

“Eu estava no Rio quando me pediram para ir até um estúdio em São Conrado gravar algo que eu não sabia o que era. O diretor musical estava em São Paulo e me dirigiu por Skype, o que já foi uma coisa diferente (risos), mas ele já me conhecia de uma participação pequena no live-action “A Bela e a Fera”. Na ocasião ele virou pra mim e falou: “- Olha, eu tenho certeza que você vai pegar porque é a sua cara essa personagem e tem a personalidade que você imprime, então eu acho que tem tudo a ver!”. E realmente. A personagem era a Mama Amélia, do “Viva – A Vida é Uma Festa”, e eu fiz o teste e passei, mas veja bem, até então eu fiz o teste em cima de uns desenhos, que não eram nem desenho animado, eram os riscos, uns rabiscos que eu não decifrava, porque a Disney costuma manter segredo, então não sabia do que se tratava, eles só deram as dicas pra eu fazer o teste.

Depois que eu passei fui orientada pela Disney a fazer uma pesquisa, me pediram pra estudar uma referência que eles tinham, a cantora mexicana Chavela Vargas, que foi apaixonada por Frida Kahlo, e ali eu comecei a compor aquela que se chamaria Mamá Imelda Rivera. Então eu já cheguei lá muito latina, fazendo uma coisa bem ‘chorona’ mesmo, ainda sem saber muito o que esperar, e só soube na hora que entrei no estúdio e o diretor de cena me contou um pouco da história. Na hora achei super legal e comecei a fazer alguns testes de voz, até que chegou o diretor da Disney – porque eles têm um controle tão grande de qualidade que mandam o diretor de fora para dirigir a dublagem. Eu me lembro que ele veio se apresentar e me disse que era mexicano, que era um especialista em Dia de Los Muertos e tinha feito um grande musical no México sobre isso, que morava nos EUA e ia me dirigir. Na hora fiquei preocupada, porque ele sabia tudo de tudo, a exigência seria a maior impossível. Eu fiz as primeiras gravações no estúdio, ainda sem terem feito o desenho, mas a voz guia já estava pronta e dublei em cima dela.

E na hora da música foi muito legal, porque ela também é muito visceral, assim como a Mama, então eu consegui pegar isso da Chavela Vargas, da chorona. Eu achei muito interessante como isso vem no corpo e quando você vê, vem na voz para cantar. Não sei dizer se cantar foi mais fácil ou mais difícil, mas acho que encarnei muito ela, porque se tem uma coisa que eu fico muito incomodada, a cada vez que vejo um filme dublado, são aquelas vozes que falam de uma forma muito fake, meio robótica, então tudo que eu não queria era fazer isso, mas sim deixar a emoção vir, e acho que foi o pilar do meu trabalho.

Tudo foi um processo muito intenso, porque eu já tinha entrado em estúdio várias vezes, dublado várias coisas, mas nunca tinha feito um personagem tão grande, e a exigência de fato era absurda, de ter que fazer e refazer várias vezes, me atentando a tudo que ele me dizia, atenta com a intenção, porque quando a gente faz a dublagem, como o que aparece é apenas a voz, se a gente não estiver inteiro, com corpo e tudo, pra fazer aquele personagem, a pessoa detecta na hora, é uma uma coisa impressionante e que eu aprendi na prática. No primeiro dia foram cinco horas de gravação e quando cheguei em casa parecia que tinha passado um caminhão em cima de mim, mas apesar das exigências é muito gostoso, porque quando você pega o veio completo da personagem, aí é uma delícia, aí é mágica, aí vira criação, vira arte, porque é maravilhoso você criar a voz de um personagem com intenção, meio que você vai junto com o corpo dele.

As gravações começaram no primeiro semestre de 2017, mas aí em outubro eles voltaram e me chamaram de novo, eles estavam tendo um problema com a minha personagem. E por quê? Porque o nome em inglês era Mama Imelda, e eles ficaram sabendo nos EUA que, aqui no Brasil, parecia com merda (risos), então eles trocaram para Mama Amélia. Acabei voltando na TV Group e refazendo milhões de falas e aí sim já tinha o desenho animado, o que tornou tudo mais fácil.

Me lembro do diretor mexicano me dizendo que esse seria o filme mais lindo já feito pela Disney. Na hora eu achei legal, já achava a história incrível, mas não tinha muita noção quando fiz porque só via as minhas cenas, mas aí quando vi no cinema eu chorei baldes, porque é realmente uma história emocionante, eu acho que a Disney conseguiu captar a alma dessa data comemorativa do México, conseguiu captar tudo sobre essa história dos mortos, de que quando você não lembra deles eles desaparecem, isso é muito, muito significativo. Acho que fala de uma coisa que é verdade, a gente tem que reverenciar os nossos antepassados, nosso DNA, a vida está muito imediatista e estamos lidando com eles de uma forma muito leviana, é dali que a gente vem e o respeito por isso, o amor por isso, tem que ser enorme. Eu fiquei muito feliz em fazer parte dessa trupe, desse filme especificamente, por causa da grandeza e dessa lição que é tão importante para o mundo”.

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