Musicais

Especial DuB!agem: Lara Suleiman

Por Lara Suleiman

“Um dia eu recebi uma ligação falando que ia ter uma audição e que queriam que eu fizesse, então eu fui lá, sem saber do que se tratava, perguntei sobre o que era e me disseram que eu faria uma audição de diálogo e uma de canto para o filme ‘Aladdin’.

Eu surtei, por dentro estava surtando, mas por fora estava agradecendo e mantendo o profissionalismo (risos). Aí eu pensei “- Ah, beleza, eu não aqueci a voz, mas tá tudo bem, eu vou cantar ‘Um Mundo Ideal’, é mais tranquila”. Quando subi para a audição de canto eles chegaram com a música que é um pé na porta, que é ‘Ninguém me Cala – Parte 2’, uma música extremamente aguda, extremamente forte, acho que você tem que estar um pouco preparada psicologicamente para cantar essa música, porque não dá pra chegar lá e cantar, mas eu tive que aprender na hora e cantar.

E eu vou falar que foi mais fácil, mas não foi tão fácil porque é diferente de teatro musical, não é só você cantar e colocar as suas emoções na música, você pode colocar um pouco de você, mas você tem que olhar muito o que a atriz está passando, então eu tenho que olhar para o rosto dela e cantar e passar o que ela está passando, com as mesmas emoções. Foi mais fácil que a audição de diálogo, que foi logo em seguida, mas também não foi fácil porque não é totalmente a mesma coisa do que eu faço no palco, que é colocar as minhas emoções na música.

Na audição de diálogo eu fiquei muito nervosa, porque nunca tinha feito dublagem, tinha apenas um curso, que fiz com o Claudio Galvan, que era o Frei lá no ‘Romeu e Julieta ao Som de Marisa Monte’, musical que eu estava no elenco, e foram dois finais de semana, então eu sabia alguma coisa, mas não tinha experiência. Quando saí de lá minha mãe perguntou se eu tinha ido bem, e eu disse “-Acho que não” (risos). Mas eu me diverti muito e fiquei muito grata por já ter feito uma audição dessas, pois é muito difícil entrar em dublagem, então para mim foi uma benção, de verdade, fiquei muito feliz. E aí eu fui passando de fase em fase, umas três ou quatro, até que um dia eles me ligaram pra confirmar. Me lembro que na hora que soube fiquei muito feliz, mas depois me bateu o desespero e o nervosismo, porque sei da importância do filme, sei da importância dessa princesa e da mensagem que ela está passando, foi meu primeiro trabalho na área, e não queria fazer nada de errado, queria passar a mensagem clara e ser perfeitinha.

Na animação a Jasmine já era empoderada, mas desde as audições os diretores me falavam que a princesa estava muito mais e estava com os dois pés na porta, então foi isso que pensei desde o começo, em sempre estar com os pés nela. Pra mim foi muito louco ver essa evolução e eu fico muito feliz com ela, porque acho que na animação, ela sempre foi a princesa que se impunha e que lutava pra conseguir mandar na própria vida, mas nesse filme, acho que com a música e umas cenas que eles acrescentaram, eles deixaram ela muito mais poderosa, assim como a mensagem, que acredito que chega para todas as idades, chega pra uma mulher adulta, chega pra uma adolescente, e chega para as crianças, porque a mensagem é muito clara, chega de uma forma muito forte e eu achei bonito tudo que eles fizeram, assim como necessário nos dias de hoje – o que é muito louco, ter que ser necessário ainda entrar nesse assunto, quando as mulheres vem lutando por um lugar, uma voz há muito tempo; E até hoje muitas mulheres não tem isso, então é bom ensinar para as crianças, desde pequenas, que elas podem sim tudo que quiserem, podemos sim falar e fazer tudo que a gente quiser, estar numa posição de poder, dar uma opinião, óbvio, nunca desrespeitando ninguém, mas temos que ter esse direito de expressão sem repreensão, acho tudo incrível e estou apaixonada por ela. 

Tudo no trabalho é desafiador. Pra ser dublador você precisa ser ator, mas não tem nada a ver com teatro musical. Óbvio que você tem que usar suas técnicas, mas é diferente, então eu simplesmente desliguei tudo que eu sei. Eu achei que a parte do canto seria mais fácil, porque já faço isso no meu trabalho, mas não, porque não adianta a gente interpretar tudo do nosso jeito, fica estranho, não vai bater a minha emoção com a emoção da personagem, tudo tem que ser feito como se eu fosse ela e acho que na fala também, acabou sendo mais difícil pra mim porque a gente tem que pensar em muita coisa ao mesmo tempo, recebemos o texto na hora, vemos a cena na hora e colocamos a emoção certa na hora, tudo porque não temos tempo de pensar nada antes, mas foi um grande workshop, onde a gente trabalhava enquanto aprendia, e todo mundo da TV Group foi um amor comigo, eu estava nervosa e preocupada se ia dar certo, mas foram muito pacientes e carinhosos, me ensinaram tudo, então isso eu agradeço até hoje.

E confesso que chorei quando fui gravar ‘Um Mundo Ideal’, fiquei emocionada de verdade. Eles primeiro passam a cena pra gente ver, e passando ela meu olho encheu de lágrima e eu pensei: ‘-Não acredito que eu estou gravando isso!’, porque eu cresci com esse filme, era um dos meus VHS’s preferidos, então eu cantava muito, e acho que muita gente cresceu com essa música, é uma das mais conhecidas da Disney, então foi um sonho, eu não sei nem dizer, fiquei muito, muito emocionada”.

 

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Grazy Pisacane

Jornalista Cultural e Assessora de Imprensa, especializada há 10 anos no mercado de teatro musical.

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