Com música de Chiquinha Gonzaga, "Forrobodó" reestreia no Rio de Janeiro
Chega ao Rio de Janeiro, neste fim de semana, o espetáculo musical “Forrobodó – Um Choro na Cidade Nova”, uma comédia musical original e totalmente abrasileirada, conhecida a mais de 100 anos e que ganha em 2013, sua terceira montagem.
A história…
Escrita por Luís Peixoto e Carlos Bittencourt, dois jornalistas cariocas, e musicada por Francisca Edwiges Neves Gonzaga, mais conhecida como Chiquinha Gonzaga, a obra fez sua primeira estreia na noite de 11 de junho de 1912, graças ao empresário Paschoal Segret, que depois de muita insistência, disse “sim” aos dois jovens que já tinham ouvido muitos “nãos”, e convenceu Alvarenga Fonseca, diretor do Teatro São José, a montar o espetáculo.
Com o subtítulo de “burleta de costumes cariocas”, dividida em três atos e trazendo no elenco nomes como Pepa Delgado e Alfredo Silva, a peça foi produzida pela Companhia de Operetas, Burletas e Revistas do Teatro São José, e ao contrario do que se temia, foi um sucesso. Semanas depois, os ingressos eram disputados com fervor por um público que se atentava a um tipo de arte nada habitual, e que tampouco era destaque na imprensa. Foram mais de 1500 apresentações, 22 sessões públicas por semana, com ingressos que se esgotavam meses antes, um fato inédito que marcou época e fez deste musical, um dos mais bem sucedidos do teatro brasileiro desde então.
A segunda montagem aconteceu em 1995, também no Rio de Janeiro, no Centro Cultural Banco do Brasil. No elenco, nomes como Gláucio Gomes, Ivana Alves, José Renato e o ator Flávio Bauraqui, que estreava profissionalmente no teatro adulto. Com direção de André Paes Leme, direção musical da pianista Maria Teresa Madeira e a produção da Sarau Agência de Cultura, o musical ganhou inclusive o Prêmio Mambembe, como uma das cinco melhores peças do ano – reafirmando o sucesso de 83 anos atrás.
Agora, quase duas décadas depois, a comédia musical centenária é remontada, dirigida mais uma vez por André Paes Leme, remexida e atualizada, mas sem perder sua essência, sua história e seu clássico. Dispensando os figurinos de época, uma roda de samba no palco se encarrega de transportar o espectador para o tempo que ele desejar, com um texto atemporal e uma trama simples, a história basicamente gira em torno de um triângulo amoroso e tem como plano de fundo, um clube. Personagens comuns, de tipos populares e caricaturados, são retratados em cena, como um guarda-noturno e um ladrão de galinhas; A negritude do espetáculo ainda é o maior destaque, porém, hoje, vista com toda a naturalidade e muito mais maturidade, diferentemente de em 1912, quando até formar um elenco afrodescendente no teatro de revista era difícil, e quando coisas como o ritmo, a dança e o uso de “gírias capadócias” causavam certo estranhamento na plateia, formada principalmente pela sociedade conservadora da classe média e alta.
Para o ator Flávio Bauraqui, que repete a dose na nova montagem, reviver isso tem um quê especial. “A montagem de 95 tinha uma característica de ser graciosa. Mas se passaram 18 anos, já somos maiores de idade, podemos falar desse Brasil que mudou, inclusive na postura dos negros, diferente da que aparece em momentos da peça. Para mim, é muita sorte poder jogar outro olhar sobre a mesma coisa”.
Nessa nova versão, o repertório original que inclui o sucesso “Não se impressione”, e é considerado um dos pontos fortes do espetáculo, foi ampliado; A diretora musical Maria Teresa Madeira, que também retorna à montagem, optou por incluir na trilha oito canções de compositores como Pixinguinha, Sinhô e Caninha; E embora marcada pelo maxixe, gênero musical da moda e característico das partituras de Chiquinha, as músicas ganharam novos arranjos por Leandro Braga, mas sem perder o apelo urbano e necessário da época.
Para interpretar e musicar essa comédia romântica, o veterano Flávio Bauraqui, sobe ao palco ao lado dos atores Érico Brás e Juliana Alves, dos cantores Marcos Sacramento e Pedro Miranda e de Alan Rocha, Edna Malta, Joana Pena, Sara Hana e Sérgio Ricardo Loureiro, que completam o elenco. Juntos, eles interpretam as canções que são acompanhadas por cinco músicos em cena: Maria Teresa Madeira no piano, Joana Queiroz (clarinete e sax), João Luís Areias (trombone), Fernando Zanetti (tuba) e Oscar Bolão ( percussão), que transformam o teatro num verdadeiro “forrobodó”.
O espetáculo fica em cartaz de 13 de julho a 8 de setembro, de quinta a domingo, no Teatro Sesc Ginástico, no centro do Rio de Janeiro.