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O Mágico de Oz: um clássico recontado à moda brasileira

Como recontar uma história com mais de cem anos e conhecida por sucessivas gerações  sem perder o brilho? Esse foi o principal desafio de Charles Möeller e Cláudio Botelho ao montar “O Mágico de Oz“, espetáculo em cartaz desde o dia 8 de julho no Teatro João Caetano, Rio de Janeiro, realizado pela Aventura Entretenimento.

Ao entrar no teatro, às 18h30, a casa já estava bastante cheia, inclusive com muitas crianças levadas pelos pais para apreciar o musical. O cenário de Rogério Falcão é o primeiro impacto que temos e permite visualizar que esta é realmente um superprodução da dupla, orçada em aproximadamente R$ 9 milhões, incluindo uma orquestra de 16 músicos, 14 cenários e 35 atores/cantores/bailarinos em cena.

Sem dúvida, ao assistir o espetáculo você percebe a marca autoral da dupla no musical, adaptado da versão encenada pela Royal Shakespeare Company, de Londres, para os palcos e considerada a mais fiel ao filme da MGM de 1939. A versão brasileira tem elementos únicos, como a presença do sátiro “Ciclone“, interpretado pelo bailarino e acrobata ucraniano Kostyantyn Biriuk, que assim como a casa da Dorothy, aterrizou no lugar certo e na hora certa. 

Falar sobre Malu Rodrigues no papel de Dorothy é chover no molhado. A afinação e o vigor da interpretação da jovem atriz e já veterana dos palcos nos impressionam na bela versão de “Over the rainbow” assinada por Cláudio Botelho. Há uma canção interessante no segundo ato, “O Besourão” ( “The Jitterbug”), excluída do filme de 1939 e resgatada po Möeller e Botelho para a versão teatral, em que podemos ouvir a versatilidade vocal de Malu Rodrigues, cantando em um tom mais jazzístico.


O trio composto por Pierre Baitelli (Espantalho/Hunk), Lúcio Mauro Filho (Leão Covarde/ Zeke) e Nicola Lama (Homem de Lata/ Hickory) dá um show a parte de interpretação. O trabalho de corpo dos atores foi muito bem feito, mas os movimentos e piruetas de Pierri Baitelli além de seu andar “bamba” o destacam. Vê-lo apresentando uma face mais cômica, diferente do sério Melchior de “O Despertar da Primavera” mostra a versatilidade do jovem ator. Nicola Lama surpreende com a ausência de seu sotaque italiano e pelas habilidades de dança, sobretudo em seu solo “Se eu tivesse um coração” ( “If I Only Had a Heart”), onde Cláudio Botelho e Charles Möeller sabiamente colocaram uma homenagem ao clássico choro “Brasileirinho”. Lúcio Mauro Filho nos faz rir do começo ao fim no papel do “assumido” (sim, isso mesmo que vocês pensaram) Leão Covarde. Suas piadas adultas passam despercebidas aos ouvidos das crianças (será?) mas agradam aos adultos presentes no espetáculo.

A Bruxa Má do Oeste, no entanto, é uma estrela à parte. No dia em que assisti ao musical, Maria Clara Gueiros não pode estar presente e o papel da antagonista foi interpretado com maestria por Cristiana Pompeu. Apesar de não ser uma personagem que canta, a bruxa rouba a cena com suas piadas sobre sua “beleza cativante” e a inveja que sente por Dorothy, que recebeu os sapatinhos vermelhos capazes de aumentar o seu poder. Sinceramente, eu gostei muito da personagem, cativante pela sua maldade criativa, fazendo piadas até sobre si mesma (“Você tem inveja de mim porque eu fiz Tablado” diz ela a Dorothy/Malu em um dos momentos hilários da peça). Para quem não sabe, Teatro Tablado é uma companhia teatral que formou atores de renome como Marieta Severo, Miguel Falabella e Drica Moraes.

Cristiana Pompeu dá vida à hilária Bruxa Má do Oeste
E como se dança neste espetáculo! A coreografia de Alonso Barroso merece um prêmio pelos números de dança criativos! Se destacam os Munchkins na canção “Munchkinlândia” em que os dançarinos se apresentam de joelhos representando o pequenino povo que recebe Dorothy em sua chegada à Oz. Sem falar na incrível canção “O Besourão”, em que o elenco dança “até cansar”, ao lado de insetos deslisando sobre skates.  O mágico e sexy número das papoulas nos apresenta uma bela fotografia.

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É impossível não mencionar os hilários corvos dançarinos, interpretados por Darwin del Fabro, Elton Towersey e Alfredo Del-Penho. Eu acredito apenas que o número de sapateado poderia ser um pouquinho mais extenso para apreciarmos os talentos dos dançarinos. O figurino dos três também é muito interessante, usado inteligentemente. As acrobacias de Kostyantyn (Ciclone) e Flávio Arco Verde (Nikko, o líder dos macacos alados de Bruxa Má do Oeste) não passam despercebidas e surpreendem o público pela precisão.

Apenas Carlos Miele eu achei um pouco apagado diante do deslumbrante espetáculo. Pareceu pouco vivo, perto da performance dos outros artistas, mas na verdade, se formos avaliar a história, o Mágico de Oz não representa a decepção? Agora, quanto a afinação, ele surpreende no curto solo “Um mágico a mais”, adicionado ao espetáculo. Os cãezinhos dão um show a parte, embora Malu Rodrigues pareça perder a segurança ao cantar, para tentar dar um pouco de atenção ao cachorrinho Totó, um dos personagens mais importantes da história, que apesar de ser um animal, é o responsável pelo percurso da heroína no seu processo de amadurecimento.  

Os personagens de Tio Henry/Guarda da Cidade das Esmeraldas e Tia Em/Glinda, interpretados por André Falcão e Bruna Guerin cumprem o seu papel com afinação impecável. No entanto, a Tia Em da atriz lembra um pouco a mãe de Claude, em Hair, talvez pelo timbre da voz utilizado. Mas quando Bruna assume a identidade de Glinda, a Bruxa Boa do Norte, a atriz brilha no espetáculo, desfilando com seu figurino composto pelo estilista Fause Haten, responsável pela criação do guarda-roupa do musical.

Acredito que poderiam ter dado um pouco mais de brilho e detalhes ao figurino do exército Winkie, dos Besouros e dos Macacos Alados, assim como fizeram para as roupas do pequeninos Munchkins ou do povo de Oz (muito elegantes eles!). Apenas em comparação com os outros, ficou parecendo menor. A iluminação de Paulo César Medeiros, ao lado pelo Design de Som de Marcelo Claret e da incrível orquestra dirigida por Marcelo Castro são impecáveis no papel de nos fazer viajar até o incrível mundo de Oz.

Para fechar, “O Mágico de Oz” se afirma como um dos mais primorosos espetáculos apresentados por Charles Möeller e Cláudio Botelho do ponto de vista técnico, justificando o seu orçamento. As letras de Cláudio Botelho mais uma vez nos surpreende por sua sutileza e objetividade. E o texto, adaptado para se aproximar do público brasileiro, sem dúvida é o elemento mais original do espetáculo, reafirmando o verdadeiro “selo de qualidade” criado pela dupla.

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