Reconstruindo sonoridades – como as canções de Lulu Santos se tornaram a trilha sonora de “Meu Destino é Ser Star”
Transformar músicas já conhecidas e consagradas na voz de diversos intérpretes e fazer delas a trilha de uma história parece uma tarefa simples, algo como um quebra-cabeças. No entanto, esse trabalho é mais complexo do que parece, sobretudo quando há uma intenção por trás dessa história. Esse é o desafio encarado no espetáculo “Meu Destino é Ser Star”, que encerra sua temporada em São Paulo neste domingo e inicia um turnê pelo Brasil em Belo Horizonte a partir do próximo dia 26. O musical desnuda a obra de Lulu Santos para contar algo completamente novo, ainda que com uma ligação com a poesia do homenageado.
Além do talentoso elenco no palco, o grupo de músicos também está ali presente no palco, não apenas por uma questão de acomodação. Por se tratar de um ícone da música pop, a presença da banda, junto aos atores ajuda a trazer realismo ao espetáculo, que se propõe a mostrar os bastidores da produção de um musical, algo ainda novo para o público brasileiro, habituado a ver no teatro o resultado de uma obra.
“Quando o Zé Ricardo (diretor musical) colocou a gente no estúdio, foi super generoso ao nos permitir colaborar com nossa sonoridade própria para o resultado. Cada um dos quatro músicos da banda tem experiências distintas, influências de diversos outros artistas e ele nos deu muita liberdade para criar em cima do projeto que ele montou”, explica Pedro Santos, pianista, tecladista e regente do espetáculo.
Capturando a linguagem adequada
Ao todo, 43 canções compõem a trilha do espetáculo e a maior parte desse repertório precisou ser praticamente decorada pela banda, o que representou um grande desafio. O motivo foi a grande movimentação dos elementos cênicos, que exigia agilidade não só elenco nas passagens, como também dos músicos. Mas nada se compara a rotina frequente de longas horas de ensaios.
“Para mim, foi uma felicidade trabalhar com a obra do Lulu Santos, um cantor e guitarrista que sou muito fã. Conhecer previamente o repertório dele me ajudou muito, mas a principal surpresa nessa jornada toda foi a intensa preparação para o espetáculo, que difere, por exemplo, da rotina de um show ou gravação de DVD, que todos nós aqui temos experiência”, conta Juno Moraes, guitarrista e estreantes no teatro musical.
E foi essa intenção de apresentar algo que lembrasse o universo da música pop que levou à decisão do time criativo do espetáculo de colocar a banda em cena. “É parte do espetáculo trazer esses elementos que lembram uma apresentação ao vivo, afinal estamos falando de Lulu Santos. E, dessa forma, conseguimos também colocar um pouco da nossa experiência nesse ramo. Essa banda funcionou porque além de tocarmos juntos há bastante tempo, os integrantes têm esse misto de experiências, como eu e o Diego Soares que já trabalhamos em ‘Ayrton Senna – O Musical’ e ‘Rock in Rio – 30 anos em 15 minutos’, enquanto os outros parceiros trouxeram um pouco da sua história para o espetáculo”, relata Vini Lobo, baixista do grupo.
Cocriação
A música de “Meu Destino é Ser Star” segue um caminho muito próprio e original desenhado por Zé Ricardo em conjunto com outro parceiro importante no processo criativo do musical: o arranjador Maurício Piassarollo, que trabalhou com Ricardo na etapa de pré-produção do espetáculo. Quem tem o ouvido mais treinado, pode perceber as sutilezas que distinguem um processo de “cover” para as melodias que foram adaptadas no musical.
“O piano, bastante comum em musicais para marcar cadências e tonalidades, passa aqui a ser substituído pelo teclado e guitarra na condução rítmica, por exemplo. Há canções normalmente com um tom mais alegre que aqui adquiriram uma sonoridade mais triste ou reflexiva para dar dramaticidade” explica Pedro.
Além dos arranjos, o projeto de direção musical contou com a contribuição de elementos da música eletrônica, parte do trabalho que caiu como uma luva nas mãos do baterista Diego Soares. “O desejo do Zé neste espetáculo foi combinar gêneros. Um do pouco do teatro musical, um pouco do pop e mesmo um pouco do eletrônico, parte onde eu pude contribuir bastante. Ao contrário do que algumas pessoas pensam, não é apenas apertar o play e deixar acontecer. Nós tocamos tanto a bateria orgânica quanto a eletrônica ao vivo no show. Do total de canções, apenas 15 possuem pré-gravação” comenta Diego.
Pela natureza coletiva dos espetáculos de teatro musical, para alcançar o resultado, foi necessária também a colaboração do elenco, formado por Victor Maia, Helga Nemeczyk, Gabriel Falcão, Myra Ruiz, Jéssica Ellen, Mateus Ribeiro, Carol Botelho, Marina Palha, Ana Elisa Schumacher, Leonardo Senna e Diego Montez. “Para nossa sorte, tivemos um elenco altamente versátil que compreendeu rapidamente que a proposta musical era diferente. Ao final da peça, a gente brinca que vai gravar um disco, porque vemos um material absurdo de qualidade musical que poderia facilmente ser transformado em uma carreira musical” elogia Pedro.
SERVIÇO:
Onde: Teatro Frei Caneca – Shopping Frei Caneca
Rua Frei Caneca, 569
Quando: 15 de março a 14 de abril
Sexta-feira – 20h | Sábado – 16h e 20h | Domingo – 19h
Quanto: R$50 a R$150 (inteira)
Classificação indicativa: 12 anos
Duração: 150 minutos – com 15 minutos de intervalo