“Milton Nascimento – Nada Será Como Antes” estreia para convidados em São Paulo
O espetáculo musical que chega essa sexta, 22, ao palco do Teatro GEO, em São Paulo, fez ontem sua estreia vip, em uma noite que aconteceu como um presente para os seus convidados, repleta de aplausos, canções cantaroladas pela plateia e grandes picos de emoção. Depois do sucesso da temporada carioca, já era esperado que o público paulista recebesse positivamente o show teatral, onde através da música, em um cenário que representa uma tradicional casa mineira, um grupo de jovens cantam a história dos 50 anos de carreira de uma das maiores vozes da música popular brasileira, Milton Nascimento – que é fã dos trabalhos da dupla Möeller & Botelho e numa feliz coincidência, foi eternizado e presenteado com a obra, que passou por um longo processo entre a idealização e sua realização.
Ao contrário do que se pode esperar, Milton não tem sua história contada cronologicamente, partindo de sua infância, sua descoberta musical, seus relacionamentos, até os dias de hoje… A viagem no tempo acontece por alguns grandes sucessos do músico, 48 ao todo, e passeia pelas quatro estações do ano, mudanças que se mostram especialmente diante de alguns detalhes que se alteram no cenário e das vestes características do elenco.
“É uma obra musicalmente muito complexa, ela é aparentemente simples, mas é extremamente sofisticada. Tem dramaturgia, ela só não é escrita para um texto falado, também não queriamos contar a vida do Milton… Milton criança, a mãe batendo, o pai expulsando de casa, passando pela miséria… Não é nosso estilo, a gente queria contar a obra de Milton, que é o que interessa e me parece que é o mais forte. É quase que uma opera, uma hora e meia, totalmente cantada, sem uma palavra, onde você entende momentos em que há tristeza, em que há guerra, em que há opressão, há luta, onde você tem que usar de metáforas para pode falar do que está acontecendo… Onde há poesia, há primavera, onde há o amor e o irmão, que é uma coisa tão forte na obra do Milton, a irmandade… De lá pra cá, nada foi como antes”, como diz o nome do espetáculo, disse Claudio.
Com vozes harmoniosas e um entrosamento nítido, os atores se misturam, se somam, se dividem, se complementam e completam de forma perfeitamente sincronizada, fazendo do show um show a parte – acerto que lhes rendeu o lançamento do CD com a trilha do espetáculo, mérito que cabe muito bem a Jules Vandystadt, responsável pelos arranjos vocais, e Delia Fischer, responsável pelos arranjos musicais.
Para a escolha do repertório, a dupla viu aí uma tarefa difícil, quase que um dilema diante de cinco décadas, e sobre isso e todo o processo de intenção e definição, Charles conta…
“Foi um inferno. Eu gostava de uma coisa, e claro, Claudio de outra… Obviamente é muito difícil você fazer um espetáculo com tempo de duração sem colocar tudo, é muito difícil você fazer um espetáculo do Milton sem colocar “Maria Maria”, “Coração de Estudante”… Como reler isso, depois que tantos artistas geniais já fizeram de maneiras absolutas… Como cantar “A Cigarra” diferente da Simone, ou diferente da Elis que praticamente reinventou o Milton na voz dela, ou da Nana Caymmi com “Cais”… A gente tentou mesclar as duas coisas, é logico que se o espetáculo fosse um pouco maior, eu gostaria de ter pérolas que a gente teve que abandonar, o Claudio idem, a Delia idem, Jules idem, só que tem uma hora que você tem que trabalhar o desapego e cortar… O repertorio precisa contar uma historia, quando a gente separou em quatro estações e definimos o que seriam as quatro estações do ano, as próprias estações, o fio condutor, a luminosidade que a gente queria, foi limando musicas. Foi muito difícil para todos, mas acho que a ente chegou em um resultado incrível, e ainda dá pra fazer Milton 1, 2, 3, 4…”.
O elenco que permanece o mesmo da montagem do Rio, é composto por Claudio Lins, Marya Bravo, Delia Fischer, Cássia Raquel, Estrela Blanco, Fabiano Salek, Pedro Aune, Jules Vandystadt, Lui Coimbra, Pedro Aune, Pedro Sol, Sergio Dalcin, Tatih Köhler, Whatson Cardozo e Wladimir Pinheiro, todos atores/cantores e se não bastasse, para a surpresa quase que geral do publico, músicos… Nos instantes que antecedem os aplausos finais, o elenco emociona ao se despedir tocando seus respectivos instrumentos, o que só deixa ainda mais claro seus dons e talentos.
Ao final da apresentação especial, a grande estrela homenageada subiu ao palco para receber o abraço coletivo do elenco, onde naquele mesmo momento, Milton recebeu centenas de aplausos como uma bela forma de agradecimento por sua vida e obra, aplausos também que se estenderam aos diretores Charles Möeller e Claudio Botelho, e ao presidente da Geo Eventos, Leonardo Ganem, responsáveis pelo sucesso do projeto e do evento.
O musical fica em cartaz até 26 de maio.