Tiago Barbosa: Um guerreiro em forma de leão
Saiba tudo sobre o protagonista do musical 'O Rei Leão', superprodução da Disney em cartaz em São Paulo.
Há alguns meses atrás ele escolheu se arriscar em um teste que mudaria sua vida, mas foi justamente a vida quem o escolheu para viver um novo sonho e torná-lo mais real a cada dia. Tiago Barbosa conquistou o olhar encantado e emocionado da diretora americana Julie Taymor e hoje, ao dar vida à Simba, seu personagem no musical “O Rei Leão”, vem ganhando o reconhecimento de cada espectador que tenha assistido a pelo menos uma das 100 apresentações já realizadas. E sobre esse grande momento e todos os outros de sua carreira, ele conta tudo em detalhes para o A Broadway é Aqui!.
A trajetória
O carioca de 28 anos que deixou para trás a família, os amigos, o trabalho e uma série de projetos musicais paralelos, não pensou duas vezes antes de aceitar se mudar para a Selva de Pedra que é São Paulo e encarar a responsabilidade de viver um dos personagens mais famosos da Disney, o jovem leão que assim como Tiago, tem uma história de muito aprendizado, amadurecimento, descobertas e desafios; e toda essa história começa em 1990, quando os primeiros sinais do seu dom para a música deram o ar da graça, abrindo caminho para uma longa jornada de estudo, dedicação e investimento no seu talento.
“Posso dizer que o desejo de ser artista vem desde cedo, eu fui atrás através dos meus próprios meios para chegar até aqui. Desde a minha infância meu pai levava a música para dentro de casa, estávamos sempre cantando… No colegial eu fiz teatro em São João do Meriti por três meses, para mim era algo sério, mas para os meus pais era brincadeira de criança. Com a escolha da faculdade eu tinha duas opções, fazer música ou fazer fonoaudiologia, mas não segui nenhum dos dois e fui para pedagogia. Música não dava para fazer porque meus pais não deixavam, eles não acreditavam que era algo sério, que renderia meu futuro, por isso optei por pedagogia. Durante a faculdade eu já ganhava dinheiro com musica e foi com essa renda que eu paguei o meu estudo. O canto esteve sempre presente em minha vida… Comecei a fazer aula de canto também em Meriti, estudei por dois anos, depois tive aulas com o professor Tiago Martins, com quem me especializei, e nesse momento eu já estava na faculdade de fonoaudiologia, minha segunda formação, também nesse período eu trabalhava como backing vocal, e tudo isso me levou a me tornar preparador vocal, foi um período de mais ou menos seis anos”.
Sendo filho de pais músicos, se deixar influenciar parecia algo inevitável. Aos 13 anos, Tiago entrou para a Orquestra Sinfônica, onde estudou tempo suficiente para desenvolver seu lado instrumentista e o gosto por tocar saxofone e clarinete; Também conheceu melhor a dança, ao integrar a companhia “Estilo Gospel Dance”, e diante de tanto envolvimento com a arte, se encontrar nela era mesmo uma questão de tempo. Bastante dedicado e dono de uma persistência admirável, Tiago acabou optando por explorar seus dons tendo como alicerce suas referências familiares, pois embora seus pais questionassem a força desse “querer”, foi deles que nasceu toda a paixão que sempre o moveu, e foi nela que ele se agarrou – sustentado por uma fé inabalável, para ir em busca de aperfeiçoamento, uma caminhada com diversas experiências que lhe abriram as primeiras portas para os contatos profissionais e retornos positivos, servindo de base fundamental para chegar onde está hoje… E sobre esse caminho, ele recorda:
“É muito bom falar sobre isso, minha herança musical começou na igreja, onde sempre cantei. Quando eu comecei a cantar como backing vocal no grupo Stylos, em Meriti, senti que finalmente estava entrando no meio artístico, eu comecei a produzir no meio gospel para diversos artistas… Meu pai sempre escutava em casa black music, MPB e Samba, mas tinha um disco do Stevie Wonder que era o meu preferido, sem duvida é a minha grande referência musical e tento levá-lo por onde já caminhei.
O ‘Samba de Alta’ foi um presente de Deus na minha vida e uma escola onde aprendi muito… Controle da voz, presença de palco, como lidar com o público, trabalhar em equipe, entre outras coisas…
E trabalhar com a companhia ‘Nós do Morro’ (Ong do Rio de Janeiro situada no morro do Vidigal) trouxe um grande amadurecimento na minha carreira como ator e na minha vida em particular. Era um trabalho árduo e de muita entrega e doação. Dividir, somar e multiplicar. Quem disse que do morro não pode vir grandes revelações? Como era bom investir na vida daqueles jovens, que como eu, tem sonhos de voar mais alto… Eu trouxe isso para os palcos, essa essência e esses pilares”.
Em 2012, o carioca que morou em Itanhangá, passou por São João de Meriti e tem deixado saudade no Morro do Vidigal, conseguiu ir além das oportunidades que o Rio de Janeiro já havia lhe oferecido, e mostrou para todo o país seu potencial e carisma através do programa “Ídolos”, um reality show da Rede Record que buscava encontrar o “novo ídolo do Brasil”. Com uma participação surpreendente, Tiago chegou ao oitavo lugar em uma competição que selecionou cinco mil candidatos, e ao ser eliminado, deixou em todos que acompanhavam suas apresentações, uma clara sensação de que ali deveria ter ficado – até o final.
“A passagem pelo ‘Ídolos’ foi uma grande experiência de aprendizado, foi o primeiro momento em que eu coloquei minha “cara a tapa”, pra ver se o púbico gosta ou não gosta e medir meus limites como cantor. Me experimentei, foi muito bacana…”.
Atualmente, seu nome brilha entre os novos talentos do teatro musical brasileiro, Tiago se destaca como revelação por sua atuação emocionada e seu timbre diferenciado; Mas engana-se quem pensa que a savana é sua primeira morada por trás das cortinas de um palco…
“Trabalhei em dois musicais, um pelo Nós do Morro, ‘Bandeira de Retalhos’ (2012), e outro infantil chamado ‘Ilana e a Banda dos Bichos’ (2012), de lá fui para o ‘Ídolos’, permaneci no Nós do Morro, e desde então o processo foi muito rápido até minha estreia em ‘O Rei Leão’”.
“O Rei Leão”
Tiago soube dos testes para o musical através de um amigo do grupo Nós do Morro, e aceitou a ideia, apesar de inesperada, com boas expectativas. De acordo com ele, foi preciso tomar muita coragem para entrar no processo – processo esse de onde saiu realizado, com a melhor resposta e um dos mais acolhedores abraços… Um momento marcado por muita emoção, e que foi registrado em vídeo pela ABC News, “vazando” quatro meses antes da estreia do espetáculo no Brasil e da divulgação oficial do elenco; Nele, Tiago Barbosa foi apresentado ao mundo, cantando um trecho de “Endless Night” (Noite Sem Fim), a canção que tocou os corações da bancada americana e o fez ser prontamente selecionado para o papel principal. Esse registro chega a ser suficiente para dar uma pequena noção do que ele sentiu e vem sentindo desde então, e que também vem deixando transparecer a cada apresentação.
“Foi uma emoção muito grande, a primeira coisa que eu quis fazer foi ligar para os meus pais. Eu não imaginava que conseguiria chegar até aqui, fiz tudo com muita vontade e determinação, mas não sabia se tinha o suporte necessário para chegar até o papel, recebi muito apoio dos meus amigos. Quando a Julie Taymor me chamou de ‘Simba’ durante a audição passou pela minha cabeça um filme de todo período até chegar aqui. As pessoas que diziam que eu não conseguiria porque não falo inglês, porque não estou na mídia, porque nunca estive no meio do teatro musical… A minha vontade é de dizer que eu batalhei para estar aqui, o abraço da Julie foi como dizer ‘valeu por você não ter desistido’”.
Com a conquista do seu personagem, foi necessária uma série de mudanças e adaptações na vida e rotina de Tiago, a começar por deixar seu Rio de Janeiro para viver na capital paulista. Em pouco tempo ele foi se moldando às necessidades e características que seu Simba exigia e encarou cada transformação com consciência e comprometimento.
“A primeira mudança foi na minha postura como ator, ser humano, e entender o que eu estou fazendo agora, meu trabalho hoje, essa foi minha grande mudança. E teve o sotaque, claro, eu precisei entender que o Simba é um príncipe e ele não tem a carga regional que eu carrego, precisei entender que ele não teria o sotaque carioca tão acentuado. Cortar o cabelo também foi um momento de mudança muito grande, eu tinha dreadlocks, fui diminuindo o cabelo desde o período de audições”.
Sobre a mudança de ares e de cidade…
“Morar em São Paulo está sendo uma experiência bem diferente, aqui o clima muda muito, não é nada parecido com o Rio, estou tendo que cuidar muito mais da minha saúde, além disso, falo com a minha família sempre que posso para matar a saudade”.
Como todo bom ator, ele, que tem Lázaro Ramos como sua principal referência no meio artístico, tratou de seguir à risca o passo a passo para a construção do seu jovem leão, e isso vai além de muita academia, dança afro e sapateado, atividades que vem se dedicando. Embora as vezes chegue a ter apenas uma folga na semana, não há um dia que ele não se dedique a aperfeiçoar seu Simba, conhecido mundialmente, mas com um Q único e abrasileirado, essência natural de Tiago.
“Para viver Simba a primeira coisa que eu precisei priorizar foi a minha alimentação e hidratação. Gasto muita energia no palco e estou sendo acompanhado por uma nutricionista para não perder peso. Quanto à carga dramática que o personagem precisa, eu sempre me doo muito em cena. Procuro ler meu texto todos os dias, converso muito com meus amigos de cena e permito me envolver nessa grande história. Sempre me emociono de verdade ao cantar “Endless Night” (Noite Sem Fim), é uma letra repleta de significado!”.
E é disso que a clássica história de “O Rei Leão” é feita, de significados. Ela marca por sua temática familiar, por falar de amor, amizade, valores e caráter, além de passear pelo autoconhecimento, a força interior e o recomeço, tudo muito bem simbolizado pelo tradicional cântico de abertura, o “Ciclo da Vida”… E quando perguntado sobre o que Simba vem lhe ensinando ao longo dessas 100 apresentações, ele conta:
“Estou aprendendo a ser um filho melhor, mas vai além, aprendendo a ouvir mais, a falar menos e a acreditar. Todos sabem que essa é a minha primeira experiência grande com teatro musical, tive muito medo no primeiro momento, mas eu percebi que o medo faz parte da vida de todo àquele que um dia se permitiu viver um grande sonho, e aprendi a lidar com isso”. E sobre às semelhanças com seu personagem, ele destaca as que identifica: “O Simba é um meninão, muito maroto e forte”.
Pós Savana
Embora cheio de projetos paralelos e sonhos, Tiago conseguiu encontrar um cantinho na sua vida para deixar todos eles, sem que precisem se perder ou desligar, e sem que ele precise desistir ou esquecê-los. Mesmo não descartando nada, é enfático quando afirma estar totalmente envolvido com os palcos, com o teatro musicado e a fala cantada, o que de fato lhe freia alguns planos paralelos.
“É muito difícil fazer teatro musical, corpo, voz e encenação, tudo trabalhando em conjunto, além de trabalhar por oito sessões semanais. Esse desafio me atrai, me sustenta em vigor. Eu sinceramente estou muito focado com esse trabalho… Nem todo dia é primavera, lembro disso todos os dias, porque já passei por um Outono infindável, de folhas secas e solo sem frutos, isso me faz investir mais em mim atualmente, estou me preparando mais, investindo em preparação para a área… Quando me percebo pensando muito no que ainda nem aconteceu eu peço a Deus pra guardar meu coração e dirigir os meus passos. Estou amando trabalhar com teatro musical, estou muito apaixonado por essa obra que não é fácil de viver todos os dias. Prefiro viver cada coisa ao seu tempo, mas não dispenso nenhuma possibilidade na minha vida”.
Tiago é o autor, ator e diretor de uma história bonita e real, a sua! – que fascina pela mistura de experiências do seu passado, responsável por fazer do seu presente o tempo perfeito, e lhe assegurar um futuro cheio de boas lembranças e lições. E embora sua veia artística pulse desde os cinco anos de idade, os 23 aqui resumidos retratam uma longa e honesta caminhada, que ainda tem muito chão, mas é trilhada a passos de quem tem muito fôlego… Como diz uma das frases da canção que mais o emociona em cena, “O sol vai nascer…”, eis aí uma certeza que automaticamente reacende sua fé e esperança, e que sem dúvida o faz continuar caminhando… Emocionando, sobrevivendo e se superando…
[youtube=http://youtu.be/hVN7G8UB0wQ] ►Leia também: De quase “Ídolo do Brasil” à “Rei da Selva”
Maravilhosa e encantadora!
Li em voz alta na sala para meu marido e meus filhos. Já assistimos o espetáculo 03vezes.
Hoje de manhã me emocionei ao ouvir sua historia pela radio Jovem Pan e recorri ao Google para mais detalhes sobre você …. Parabens pela garra e pelo amor aos seus pais!