Especial DuB!agem: Nando Pradho

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Por Nando Pradho

“Eu fiz muito pouca coisa em dublagem antes de ter feito o Gaston. Todo mundo sabe que o mercado de dublagem é muito fechado, mas eu acho que ele se abriu principalmente para os cantores de teatro musical, depois que começaram a contratar profissionais que atuassem e cantassem, podendo fazer o personagem do começo ao fim, diferente de antigamente, que o dublador podia fazer o personagem inteiro e só na hora da canção contratavam um cantor ou um ator de musical, isso abriu as portas pra gente.

Me lembro que no mesmo dia que assinei o contrato do “Les Misérables”, no final de 2016, chegou a notícia de que eu seria a voz do Gaston no cinema. Foi uma experiência incrível, eu fiz audição, mas me chamaram principalmente porque eu fiz o Gaston no teatro em 2002/2003, em 2002 eu era cover do Daniel Boaventura e em 2003 ele saiu pra fazer novela e eu eu assumi o papel.
As gravações da dublagem foram exatamente durante os ensaios do musical, e o curioso é que eu estava há dois anos gravando novela, ‘Cúmplices de um Resgate’, onde eu fazia uma coisa mais naturalista, e os ensaios do Les Mis, que eu fazia de dia, e as gravações do Gaston, que eu fazia de noite, eram totalmente o extremo um do outro, não tinha o meio termo da novela, então, por exemplo, principalmente em relação as consoantes, de dia me exigiam que eu explodisse nelas, que tivesse uma pronúncia muito boa – e isso eu cobro de mim sempre no teatro porque, você está no palco e tem 1500 pessoas te assistindo que precisam entender o que você fala e pra isso acontecer você não pode ser natural, tem que fazer uma coisa mais realista, tem que forçar as consoantes para que a pronúncia funcione -, então do mesmo jeito que de dia eu forçava as consoantes, a noite, na dublagem, era o contrário, porque é tudo muito sensível.

O Gaston eu gravei com quatro microfones, nunca tinha visto isso, eu usava o microfone principal, que fica na frente, usava um na testa igual o que a gente usa em musical, e dois overs de ambiente, uma superprodução né?! Disney… E por exemplo quando eu falava “-Olá Bela…”, esse Bela explodia nos microfones, principalmente no principal, então o “bé” do Bela tinha que ser quase um “mé”, de Mela, foi um trabalho muito cirúrgico porque as consoantes tinham que ser muito mais delicadas.

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Outra curiosidade que aconteceu ao mesmo tempo foi quando recebi o convite para fazer o “Coco”, que no Brasil se chama “Viva – A Vida é uma festa”, no papel do Ernesto De la Cruz, e foi ao mesmo tempo em que fui convidado para vir para o México fazer a produção do “Les Misérables” aqui, então ele entrou na minha vida de uma maneira fulminante, foi tudo de uma vez, eu fui conhecer mais da cultura mexicana através do desenho e quando cheguei no país tudo aquilo que eu vi na tela, os mariachis, as coisas coloridas, o dia dos mortos, tudo isso eu vivenciei aqui, tudo estava presente e ao vivo.

Para o papel nós estudamos muitas referências, sugeridas pelo diretor e aprofundadas por nossa conta, para dar uma melhor intenção e musicalidade para personagens que são assim, regionais, dessa forma podemos ver aonde que força mais, se a melodia da frase acaba para cima ou para baixo, enfim, qual tom dar. E foi um processo muito interessante, especialmente entre as crianças, o meu público infantil da novela se surpreendeu, pois lá eu não cantava, e eles adoraram ouvir a voz do Geraldo no Ernesto De la Cruz,

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Ainda sobre a vida no México, tive uma outra experiência diferente, que foi dublar à distância. Antes de me mudar eu estava dando voz ao pai da “Vampirina”, gravando pela TV Group, no Brasil, mas para poder continuar fizemos uma parceria com um estúdio daqui, então durante os ensaios do “Les Mis” eu gravava de manhãzinha, com o técnico mexicano e um computador virado pra mim com a diretora da dublagem no Brasil me dirigindo por videoconferência. Foi uma experiência muito interessante…”.

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