*Com reportagem de Bianca Ribeiro
Em um momento em que predominam discursos de ódio por todos lados, uma obra como “Romeu e Julieta”, de William Shakespeare, ganha atualidade. Afinal, parece que Verona, cidade italiana onde se passa a ação da peça, poderia ser aqui mesmo, no Brasil e a polarização entre as famílias Montecchio e Capuleto poderia se desdobrar entre outras mil formas. E novamente, o amor apareceria como solução para dar fim à violência e ao caos.
Diante deste cenário, a Aventura Entretenimento estreou ontem, 9, no Teatro Riachuelo Rio, seu novo espetáculo – “Romeu e Julieta ao som de Marisa Monte”. O casal mais conhecido da narrativa ocidental é interpretado por Thiago Machado e Bárbara Sut, que tem seu romance embalado por 25 canções que ficaram famosas na voz de uma das mais renomadas intérpretes da música popular brasileira. Outros nomes conhecidos dos musicais também estão no elenco, como Kacau Gomes, que interpreta a Senhora Capuleto, mãe de Julieta, e Ícaro Silva, dando vida a Mercutio, melhor amigo de Romeu.
“Romeu e Julieta é geralmente associado ao encontro amoroso, mas para mim tem dois pontos fortes: a juventude e o conflito. A guerra entre as famílias é tão ancestral, que os próprios protagonistas desconhecem a razão do ódio mútuo. Eles não são parte disso, porque eles representam a renovação. Isso é um chamado à atenção aos nossos jovens, precisamos estar muito atentos a eles. Para dividir com eles direitos iguais, liberdade, respeito. Eu acredito que essa peça traz à tona a necessidade de renovação”, explica Ícaro Silva, em entrevista ao B!.
Estética atemporal para um discurso atual
Mesmo com uma narrativa inserida em um contexto renascentista, a produção da Aventura Entretenimento trouxe toques mais modernos ao palco. De acordo com Ícaro, a escolha foi trazer uma estética atemporal ao espetáculo, fato que pode ser observado, por exemplo, a partir dos figurinos do elenco e da própria trilha sonora que conta a história, sugerida por Gustavo Gasparani, que também integra o time criativo.
“Isso me ajudou de modo que eu não precisei construir um personagem de época. O Mercutio, com seu jeito bufão, procura expor o que há de hipócrita na sociedade em que vive” complementa o ator, que em cena traja uma jaqueta de couro e botas como qualquer jovem contemporâneo” complementa Ícaro.
Outro propósito da montagem é desmitificar a obra de Shakespeare. Embora seja conhecida como a “peça mais encenada” pelo mundo afora e sua estrutura sirva até hoje como modelo para novelas, séries, filmes, livros, peças etc, quando se fala no trabalho do dramaturgo inglês, ainda se pode perceber certa aura de eruditismo, que em nada desmerece esta tragédia. “Um dos principais desafios desse espetáculo é contá-lo de forma bela como ele é. No passado, houve uma péssima mania de colocar o rebuscamento em cima de Shakespeare, então nosso trabalho é trazer ele para o atual, para o popular”, comenta Thiago Machado, intérprete de Romeu.
Para Bárbara Sut, esse é o diferencial da montagem. “O processo de composição da personagem foi muito interessante nesse sentido, porque nessa produção a nossa Julieta não tem uma impostação de uma pessoa que viveu séculos atrás, mas também não é completamente contemporânea, para preservar um pouco da naturalidade do texto. Eu acho que por meio da emoção eu encontrei o meu lugar para interpretá-la. Ela é muito passional e se deixa levar por amor e eu na minha vida pessoal sou assim – muito entregue e honesta, vivendo o aqui e agora”.
Veja abaixo fotos do espetáculo:
*Crédito das imagens: Michelle Felippelli / Soda Pop
SERVIÇO:
Onde: Teatro Riachuelo Rio
Rua do Passeio, 40 – Cinelândia – Rio de Janeiro/RJ
Quando: De 9 de março a 27 de maio
Sextas e sábados, às 20h e domingo às 18h.
Quanto: entre R$ 50,00 e R$ 160,00
