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No “Dia do Desenhista”, conheça Édipo Régis, querido entre os artistas de teatro musical

Existem muitas formas de fazer arte e visando isso, o B! escolheu homenagear o Dia do Desenhista, celebrado hoje, com uma entrevista exclusiva especial. A data, que ganhou comemoração graças à Leonardo da Vinci, nascido em 15 de abril de 1452, celebra a criatividade daqueles que, através de seus traços cheios de técnica e de sua criatividade repleta de sensibilidade, expressam seus dons entre cores e formas com muita personalidade. É assim com Édipo Régis, um jovem artista dos pincéis e da tinta guache, que vem fazendo sucesso no mundo do teatro musical, retratando personalidades de forma bem conceitual.

Édipo Régis
O Desenhista Édipo Régis – Foto: Arquivo Pessoal

Tendo notado alguma habilidade com materiais de pintura ainda pequeno, ele conta que é difícil falar exatamente como a paixão pelos desenhos começou, mas se apoia nas memórias da infância, em família, para tentar chegar a um ponto de partida. Se recorda de ter a curiosidade aguçada desde cedo e de ter a certeza de que preferia caixas de lápis de cor, canetinhas, giz de cera ou folhas a qualquer outro brinquedo para viver uma infância feliz, fase que teve como trilha sonora a canção “Aquarela”, do Toquinho, que lhe serviu como uma espécie de inspiração, capaz de hipnotizá-lo e transportá-lo para um mundo incrível onde bastava imaginar e desenhar para existir.
“As primeiras memórias que tenho são sempre à mesa, com minha mãe e um bloco de papel em branco. Junto disso, uma infinidade de pedidos pra ela desenhar as mais diversas coisas: ‘Faz um cavalo? Agora um pato… Não, faz um guarda-chuva… Faz uma sereia? Uma baleia…’; E uma reticência por mais desejos de coisas que tomavam forma, a partir de linhas, diante dos meus olhos atentos. Conforme os anos passaram, os momentos à mesa continuaram presentes, contudo a brincadeira mudou um pouco. Era minha mãe quem pedia pra eu desenhar as coisas que apareciam em sua mente. E eu desenhava feliz da vida. Sempre!”.

Com o passar do tempo, Édipo se deixou levar por uma outra influência, mágica e ao mesmo tempo real, chamada Walt Disney. Fã das obras de um dos maiores produtores cinematográficos, ele não esconde o estímulo que o visita a cada novidade que surge, contribuindo para que sua criança interior se mantenha viva. Mas como todo bom artista, a admiração se faz de muitos ídolos e diversas referências, e nessa paixão toda pela arte há espaço também para Maurício de Sousa e outros responsáveis por famosos personagens do mundo da animação.
“Cresci amigo da Turma da Mônica e bolei vários planos infalíveis junto com o Cebolinha e Cascão, personagens incríveis que povoaram meu imaginário por tantos anos, graças ao incrível Maurício de Sousa. Eu sempre gostei de desenhar, não tinha pretensão de chegar a lugar nenhum, naquela época, mas aos poucos, comecei a fazer personagens dos Cavaleiros do Zodíaco, Dragon Ball Z, ou Pokemon e as pessoas foram gostando”.

Dividindo sua arte com todos que convivia, não demorou muito para que os colegas de classe, vizinhos, professores e parentes começassem a encomendar seus preferidos; Sem um estilo próprio muito definido – na época, ele explica que chegar ao que hoje o faz ser reconhecido não foi tão simples e nem surgiu de início.
“Até conseguir achar meu traço e imprimir meu estilo nessas ilustrações, fiquei na sombra de vários desenhistas e ilustradores que eu admirava. E a ausência de algum elemento que fizesse meu trabalho ser reconhecido antes da procura pela assinatura da obra sempre me incomodou bastante. Então, depois de aprender a “assinatura” desses artistas que eu tanto gostava, comecei a procurar a minha própria. Foi um processo que demorou, mas veio naturalmente. Quando percebi, as ilustrações estavam com um jeito próprio. E, hoje, sou extremamente realizado por ter conseguido essa ‘marca’ tão minha”.

E sobre essa marca – já registrada -, que há cerca de dois anos vem encantando muitas pessoas por aí, e que exige dele um processo de muita atenção, concentração e estudo, ele explica passo-a-passo como funciona:
“A técnica que eu uso pra ilustrar é trabalhosa, mas ao mesmo tempo bem simples.
A partir do momento que escolho a pessoa a ser ilustrada e a foto usada como referência, eu traço algumas linhas de apoio bem finas e leves no papel. Elas só servem pra eu ter uma visão geral de onde cada coisa deve ficar (olhos, nariz, boca, mãos…) e para melhor aproveitamento e distribuição do tema no papel. Após esses primeiros traços, inicia-se um processo de mais detalhamento, onde as formas começam a ganhar mais definição. Nesse momento, a ilustração já fica bem próxima do que é apresentado no fim, uma vez que o estágio seguinte já é o contorno final com a caneta nanquim de ponta média/fina (dependendo da necessidade). Uma vez que o contorno definitivo é feito, são utilizados alguns pincéis (dependendo do desenho e do nível de detalhamento, mais finos ou mais grossos), godê com água, uma folha pra testar as cores e a quantidade de água a ser utilizada, que sempre está ao lado do desenho a ser colorido e, por fim, a aquarela seca. Na maioria dos desenhos, a aquarela utilizada é escolar. Além de ter um custo bem acessível, deixa um resultado que eu gosto bastante. As tonalidades ficam bem suaves e é bem simples manuseá-la. Entretanto, quando preciso de cores mais vivas e fortes, utilizo outras marcas, mas é menos frequente”.

E são justamente suas cores, técnicas e referências que tanto agradam as pessoas, especialmente os artistas de teatro musical, gênero cultural que é fã desde os 16 anos, e que já lhe rendeu bons amigos e contatos – frutos muitas vezes do reconhecimento de seu trabalho.
Sem que pudesse imaginar, Édipo descobriu que a união da sua arte com a arte das pessoas que tanto admirava resultava em um lazer dedicado, que sobressaia às obrigações de um simples trabalho, passou então a presenteá-las como uma forma de gratidão, numa espécie de troca de gentilezas entre artistas, ocupando então um espaço vazio, já que desconhecia um desenhista brasileiro que fizesse esse tipo de “homenagem”, e hoje, quando ele chega à porta de um teatro trazendo uma sacola de papel, pode esperar: um novo artista entrou para a galeria.
“Sempre fui muito apaixonado por música e pela capacidade que ela tem de nos comover, mudar nosso humor, nos emocionar, nos trazer lembranças e sensações de pessoas ou lugres distantes, nos tirar desse mundo por alguns minutos (ou horas) e de nos fazer sentir, algumas vezes, o que o compositor/intérprete sentiu ao dar ouvidos aos próprios sentimentos e colocar isso pra fora através da música, mas a ideia de introduzir minha arte a esse universo tão benquisto só chegou muitos anos depois. Durante minhas pesquisas na internet por novos musicais para assistir em SP ou na Broadway, me deparei com um estrangeiro que ilustrava lindamente as cenas desses grandes espetáculos que eu amava tanto. Obviamente me encantei por seu trabalho e estilo de arte, e analisando melhor seus desenhos percebi que vários atores do nosso teatro musical curtiam eles e até repostavam alguns, quando se identificavam com alguma personagem que ele já tinha ilustrado do elenco americano.
Tendo então essa minha paixão pela arte, pelas ilustrações e o carinho enorme pelos atores das nossas montagens, quis entregar a eles algo nosso, brasileiro. Onde eles realmente pudessem se enxergar. Não apenas na caracterização, perucas ou figurinos, mas também em seus rostos. Quis que vissem minha arte e se encontrassem nela, e que ao receberem as ilustrações, não pensassem apenas ‘-Que legal! Esse cara ilustrado usa a mesma roupa que eu…’; Queria ouvir algo como “Nossa! Olha eu ilustrado com a roupa que uso nesse musical”. Entende? (risos)”.

E sobre como se dá a escolha dos seus homenageados, ele explica:
“Para escolher as pessoas que ilustro, basicamente, tenho dois critérios (que não são regras, mas que geralmente acontecem).
Tem pessoas que são muito queridas e não me canso de desenhar. Então, sempre que elas estreiam em novos papeis faço questão de ilustrá-las, mesmo que já o tenha feito antes. Às vezes falta-me tempo, mas sempre que possível dou um jeito. Esse é o primeiro critério.
O segundo é mais passional. Sempre que assisto um musical e me identifico de alguma maneira com a personagem, ou com a situação da cena, e sou arrebatado da plateia pra dentro da história, normalmente deixo o teatro em êxtase e desesperado pra traduzir em água e tinta o que senti como espectador.
Mas há também os casos em que me procuram pra pedir para ilustrar algum amigo que está em cena, ou alguém que admira as ilustrações e gostaria de receber alguma. São situações atípicas, mas que eu amo quando acontecem”.

Édipo revela que no começo era bem mais complicado conseguir boas imagens para usar como referência, pois normalmente só encontrava fotos em alta resolução de personagens principais e, confessa que, apesar de também ser fã desses ícones e protagonistas de tantas histórias, por vezes se incomodava de não divulgarem fotos dos swings, ensembles e bailarinos em ação e com boa qualidade.
“Muitas vezes, eles roubam a cena e merecem tanto destaque quanto os demais. Mas esse problema quase não existe mais. Muitos sites especializados na divulgação do teatro musical, principalmente em São Paulo, têm crescido consideravelmente, e o olhar dessa galera jovem tem ajudado bastante. Além de, atualmente, eu ter liberdade para pedir algumas imagens para alguns fotógrafos especializados nessa área, que sempre me ajudam.

Com uma galeria extensa de homenageados, entre atores e atrizes, Édipo relembra o primeiro desenho que entregou, a escolhida foi a cantriz Ana Luiza Ferreira, vencedora do Prêmio Bibi Ferreira 2015, na categoria Atriz Revelação, por sua personagem Maria Roberta, em “Mudança de Hábito”. “Foi um daqueles casos em que fui transportado da plateia pra dentro da história. Me encantei com a postulante Maria Roberta e com a paixão e entrega da atriz que a interpretava, uma moça que interpretou uma freira com uma história de superação e desejo de viver uma vida intensamente linda demais. Deixei o teatro com a certeza de que voltaria pra ouvir aquele solo mais uma vez, e com uma ilustração dela em mãos. E semanas depois eu estava lá com ela”.

Colecionando mensagens de carinho daqueles que levam sua arte emoldurada para casa, e que se manifestam muitas vezes através de abraços apertados, sorrisos largos e olhos marejados, o artista, que se diz tímido, hoje precisa lidar não só com a ansiedade e o nervosismo da expectativa a cada entrega, mas também com o fato de ter fãs, onde vê o papel se inverter e deixa de homenagear para ser também homenageado.
“É muito doido você dormir como fã e acordar com fãs admirando seu ‘trabalho’. Como sempre fui fã e conheço muito bem esse sentimento de admiração, tento lidar com isso da maneira que gostaria que lidassem comigo. Muitas pessoas não sabem quem sou, mas conhecem minha ‘assinatura’ e isso me deixa muito mais que feliz.
Às vezes, quando estou prestes a entregar algum quadro ou me apresentam para alguém que ainda não me conhece pessoalmente e a reação é ‘-Não acredito! Você o cara dos desenhos?’, volto pra casa flutuando de felicidade e realização. O perfil de fã clube na rede social me deixa bestificado, acho que nunca saberei como lidar com isso, mas assim como a maioria dos artistas, fico extremamente agradecido pela divulgação do que faço e por fazerem com que minha arte atinja a maior quantidade de pessoas possível”
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Para saber mais sobre o trabalho de Édipo Régis acesse seus perfis no Instagram: @edipo_illustration ou @musicaisporedipo.
Contato: edipo.regis@gmail.com

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Grazy Pisacane

Jornalista Cultural e Assessora de Imprensa, especializada há 10 anos no mercado de teatro musical.

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