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A força do coletivo em “Rent”

Por Maiara Tissi – Site Funny Girl

Uma reunião de amigos à frente e por trás das cortinas marca a nova versão de Rent, que estreia no Teatro Frei Caneca, em São Paulo. A nova montagem do musical, idealizada por Bruno Marchi, quem já atuou em produções como Mamma Mia, Fame, Cazuza – Pro dia nascer feliz e foi o príncipe de Cinderela – O Musical, reúne suas individualidades e seus traços únicos, ainda que respeitando o original, para mostrar a poder do coletivo.

Foi durante a temporada Cazuza que em uma conversa despretensiosa surgiu a primeira ideia de um novo Rent no Brasil. Não por acaso, voltam desta produção, junto com Bruno Narchi, os atores Thiago Machado, Bruno Sigrist, Diego Montez e Susana Ribeiro, quem interpretou a mãe de Cazuza e agora segue na posição matriarca, sendo responsável pela direção do musical. Ao longo do caminho e por outros trabalhos, estes esbarraram com talentos que se juntaram e se desvencilharam. No grupo final, Myra Ruiz (atualmente em suas últimas apresentações como Elphaba ao lado de Diego Montez em Wicked), Ingrid Gaigher, Max Grácio, Mauro Sousa, Priscila Borges, Thuany Parente, Carol Botelho, Lívia Graciano, Zuba Janaina, Arthur Berges, Philipe Azevedo, Felipe Domingues, Guilherme Leal e Kaíque Azarias.

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Cena de Rent – Foto: Caio Gallucci / Divulgação

A jornada de Bruno como produtor é como um reflexo desta trama de pessoas que tentam sobreviver às margens da idealizada metrópole, já que enfim com sua estreia prova que o sonho de um grupo de amigo artistas pode levar três anos de devaneios e ensaios, mas com persistência, chega, sim, aos palcos. O coletivo, afinal, é o que move e faz valer a vida de desajustados nas loucuras da cidade inóspita e injusta na qual sobrevivem, seja esta Nova Iorque ou São Paulo.

Não apenas em relação ao elenco, “coletivo” parece ser a palavra-chave da equipe que ajudou a fazer este desejo se tornar realidade. É o que moveu também a todos durante a pré produção. “O lugar do colaborativo é a grande marca da minha direção” , pontuou Susana Ribeiro durante a coletiva de imprensa realizada na última quinta-feira. “O conjunto de individualidades é o que mais me atrai. Assim conseguimos falar da diversidade”. A diretora admitiu também não ter referências da montagem brasileira de 200 nem das produzidas no circuito on ou off Broadway. “Vi o filme, o documentário e trechos pela Internet, mas parti diretamente do texto. Esta é a base do teatro: A palavra”.

Composta por Mariana Elisabethsky, Fause HatenDaniel Rocha, Kátia Barros, André Cortez, Leopoldo Pacheco Wagner Freire, a equipe nem sempre conseguiu se encontrar para reuniões e discussões do que deveria ser acertado em termos estéticos. O que, foram descobrir, ao contrário do que se possa imaginar, não foi um problema. A sincronia se manteve presente através de um objetivo único: Fazer o elenco se expressar melhor. Como afirma o figurinista Fause Haten: “Peguei cada ator e suas individualidades. Caminhamos separados como equipe técnica, mas percebemos que estávamos juntos o tempo todo, pois todos nos baseamos no atores”.

Estas individualidade são parte da personalidade única do Rent que vem por aí. Outro traço visualmente notável é o cenário criado por André Cortez, que promete surpreender. “Procuramos imagens de ocupação da Síria, de São Paulo e do Rio de Janeiro. Fugimos dos tijolinhos e grafites e criamos um ambiente de Rent nunca antes visto, com o palco coberto por barracas.” . O ator Leopoldo Pacheco, que entra nesta brincadeira como visagista, comentou como Rent é um musical que vai muito além apenas do espetáculo: “É uma historia de espirito, no lugar que nos permite ser amoroso”.

Enquanto em seu original, La Bohème de Puccini, o mal assolado era a tuberculose, a doença sem cura, por muito tempo misteriosa e se disseminando sem controle ou prevenção é a Aids. A vida e a morte e como viver enquanto estamos aqui, porém, são temas sempre pertinentes, que não perdem sentido não importa quando encenados. Por isso, a preocupação da versionista Mariana Elisabetsky, vencedora do prêmio Bibi Ferreira pela sua versão de Meu Amigo Charlie Brown, no mesmo ano em que concorreu consigo mesma pela versão de Wicked, foi com a linguagem. “Manter a alma das letras, atualizando o que foi preciso para não soar datado ou estrangeiro, para não tirar o público da história”, disse Mariana na coletiva, ressaltando ainda outro aspecto importante deste trabalho: “Como uma opereta, tudo tem que estar na letra. Todas as músicas ajudam a avançar a história, não tem como escapar”.

Como com as letras, cada aspecto da adaptação exigiu cuidado minucioso. Daniel Rocha, diretor musical, afirmou se atentar principalmente a trazer um Rent fidedigno em termos de partitura. Já coreógrafa Kátia Barros focou em buscar nos atores o que fosse verdadeiro, e nada mais. “Enxugamos tudo. Com esses jovens, com energia e vontade saindo pelos poros, o corpo entra na história como em uma voz só. O corpo fala. O gesto foi o caminho”.

O Brasil pode até ser o terceiro país que mais produz teatro musical, mas em meio às produções de grande orçamento, Rent vai contra a corrente. Começa em uma roda de amigos, sem patrocínio, sem audições e busca por perfis específicos, conjunto que leva ao público o mais importante: Atores que tem a rara oportunidade de falar o que quer falar, passar a mensagem que anseia por expressar. “Rent foge da norma de musicais que procuram por perfis específicos”, também atriz que já foi aos palcos com musicais como Godspell e Peer Gynt. “Nenhum de nos é uma coisa só. Ator seguir padrões e moldes. Em Rent, não. É um destes especiais, como poucos a exemplo de Hair, que vem de dentro para fora”.

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Myra Ruiz como Maureen e Priscila Borges como Joanne – Foto: Caio Gallucci / Divulgação

A alma off Broadway de Rent, principalmente considerando todo o histórico desta montagem que chega agora a São Paulo, não apenas permanece como é o cerne de toda sua realização. Historias que contam o que esta conta só podem surgir das margens. Desde seu surgimento ate agora, como prova também esta montagem, Rent que é Rent possui uma bandeira artística a frente do comercial e do lucro. Surge de experimentação e criação (em conjunto!). E para trazer outra característica destes desbravadores, o novo Rent no Brasil ficará em cartaz nas terças e quarta, dando um gosto ainda mais especial a toda obra.

O mote continua o mesmo, seja nos anos 1800 de Puccini, no final do século nos anos 1990 ou na virada de 2016 para 2017, e continuará enquanto houver humanidade. A fragilidade da vida. E ter essa consciência. O que fazer com esta consciência? Viver sabendo que vamos morrer. No day but today. Só nos resta descobrir o que faremos com isso. Mark, Roger e companhia tentam juntos fazer esta descoberta. E como é bom tentar buscar junto com eles. Afinal, é viver ou viver. E se é assim, que seja com amor!

SERVIÇO:

Onde: Teatro Shop. Frei Caneca
Rua Frei Caneca, 569 / 7º andar
Quando: Temporada 2016: dias 14, 19, 20 e 21 de Dezembro
Temporada 2017: de 10 de Janeiro até 29 de Março
Quanto: R$ 100
Duração:
150 minutos
Recomendação: 14 anos Bilheteria: 3472.2229
Terça a domingo, a partir das 13h. Aceita todos os cartões de débito e crédito, não aceita cheque. Estacionamento do shopping – R$ 10 as duas primeiras horas
Vendas: 4003.1212 – www.ingressorapido.com.br
Terças e Quartas às 21h

* O texto oficial você encontra no site Funny Girl

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