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Felipe Tavolaro: um “nerd” do teatro musical

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Atualmente em cartaz na segunda temporada do espetáculo “Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos“, Felipe Tavolaro já se tornou um rosto conhecido nos musicais brasileiros. Entre os seus trabalhos estão espetáculos infantis, “A Noviça Rebelde”, “O Despertar da Primavera”, dirigidos pela dupla Claudio Botelho e Charles Möeller, além de “Shrek – O Musical”, trazido ao Brasil pela Kabuki Produções Artísticas.

O jovem ator se considera um “nerd” do teatro musical, por conta da exigência nos detalhes que cobra de si mesmo nos estudos. Durante três anos, Felipe integrou o corpo de alunos da American Musical and Dramatic Academy (AMDA), nos Estados Unidos, onde se formou em teatro musical. Após passar por diversas e enriquecedoras experiências, Tavolaro compartilha um pouco de sua história com os leitores do B!

Assim como outros atores, o interesse pelas artes cênicas começou cedo na vida de Felipe. Aos seis anos de idade, após assistir uma peça sobre Peter Pan, ele decidiu iniciar seus estudos no teatro. Durante os anos do colegial, fazia aulas de interpretação ao mesmo tempo em que participava do coro e grupo teatral da escola. Seu primeiro contato com musical foi ao assistir a uma montagem de “Grease“, no Teatro Sérgio Cardoso.

Quando eu tinha 19 anos, em uma festa onde havia alguns amigos que estudavam teatro musical, resolvi cantar um pouco, depois de umas taças de vinho (eu era muito envergonhado pra cantar!). Nisso, um amigo que trabalhava na área disse que eu tinha tudo pra trabalhar nesse mercado, inclusive me levou pra conhecer a OperÁria, onde estudei por um ano com vários professores, e depois comecei a trabalhar com infantis, seguidos de grandes produções“, conta o ator sobre o início de sua carreira

Experiência Internacional

Em 2009, Felipe integrou a montagem paulista de “A Noviça Rebelde“, no papel de Rolf Gruber, interesse amoroso de Liesl von Trapp, interpretada por Carol Puntel. Ainda no mesmo ano fez parte de outra produção dos “reis dos musicais”, o polêmico “Despertar da Primavera”, onde teve a chance de dividir o papel do protagonista Melchior Gabor com Pierre Baitelli.

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Após uma negativa para o elenco de “Hair”, produção seguinte da famosa dupla de produtores, Felipe decidiu partir para Nova York, onde conseguiu uma bolsa de estudo na AMDA.”Demorei três anos pra me organizar, juntar verba e ir. Era uma época que eu estava emendando um trabalho no outro, adiava a viagem, mas depois que não fui chamado pro Hair resolvi que era o momento. Não mandei material pra outras produções pra não perder o foco. E, apesar da dificuldade, foi a melhor opção que fiz” lembra o ator. “Acho que temos professores excelentes no Brasil, mas na época sentia falta de uma técnica homogênea. Eu sou muito ‘nerd’ e preciso entender cada detalhe, se não acho que que fica vago. Hoje a situação está muito melhor“, ressalta Felipe.

Entre as dificuldades de estar fora de seu país de origem, longe da família e amigos, o ator teve como maior desafio a língua estrangeira. “Sempre estudei inglês no Brasil, mas quando você chega aos Estados Unidos descobre que não sabe nada. Entrei e um conservatório que exige muito, com textos e músicas dificílimas na língua original, e eu precisava soar real. Então meu trabalho era sempre dobrado em comparação ao resto da turma, pois eu tinha que estudar a personagem e investir muito tempo na fonética, o que me obrigou em tempo recorde falar a língua fluentemente. O segundo grande desafio é autorização para trabalho. Quando você se forma nos Estados Unidos, ganha o “Optional Practical Training” (OPT), certificado que te dá direito a trabalhar um ano na área que se formou, o que me autorizou a trabalhar em shows e no filme que fiz, mas desde que expirou, só posso trabalhar com contratos especiais“.

Realidades diferentes, mas não opostas

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Enquanto esteve morando nos Estados Unidos, Felipe conta que fez muitos testes para espetáculo, por conta de grande demanda. Diferentemente do Brasil, onde é possível as vezes encontrar apenas uma montagem de um espetáculo por vez, em terras norte-americanas, um mesmo musical pode estar sendo apresentado em Nova York, Chicago, Los Angeles ou outra cidade. A concorrência, no entanto, é bem maior.

Em Nova York, há em média de três a quatro audições por dia, pois lá fazem seleções para produções dos Estados Unidos inteiro. Os testes são feitos de forma bem diferente. Aqui você manda o material e marcam um horário. Lá, na maioria dos testes, você vai no dia com foto e currículo e canta no máximo 32 compassos de uma música que você leva. Se gostarem te chamam pro call back se não vai embora. E sem essa de ligar depois. Então tive a oportunidade de fazer centenas de audições. Sim, centenas porque morei três anos e fazia em média quatro audições por semana, o que foi me calejando e amestrando meus pontos fracos pra uma audição“.

Em meio a tantos processos de aprendizado, surgiu também a oportunidade de participar do reality show “Dançando na Broadway”, produzido pelo canal de tv por assinatura Multishow. Na época, Felipe estava no terceiro semestre da AMDA, conhecido pelos alunos como um dos períodos mais difíceis. “Pela agenda da produção, o que era pra ser gravado em três meses, foi realizado em duas semanas, então gravávamos três episódios por dia. Foi ‘pauleira’, quase perdi minha bolsa por faltas, pessoas perderam o emprego, mas faria tudo de novo. Fomos levados ao máximo de nossa capacidade e resistência e tivemos experiências incríveis!” relembra o rapaz.

Retorno ao Brasil

Após encerrar seus estudos no exterior, Felipe foi um dos selecionados para fazer parte da montagem de uma grande produção da Broadway no Brasil. O ator fez parte do elenco de “Shrek – O Musical“, no papel do vilão cômico Lord Farquaad, durante a temporada paulista do espetáculo, sucedendo Marcel Octávio no papel. Em cena, dividiu palco com Diego Luri, o protagonista, Giulia Nadruz como Princesa Fiona e Rodrigo Santa’Anna no papel de Burro Falante.

Em 2014, por conta da comemoração de 70 anos de Chico Buarque, Felipe foi convidado novamente pela dupla Charles Möeller e Claudio Botelho para fazer parte de “Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos“, um dos primeiros mergulhos do ator em uma obra completamente brasileira.

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“‘Noviça’ foi o primeiro, é inesquecível. O “Despertar” foi a primeira vez que alternei um protagonista e a peça é genial ‘Shrek’ foi o trabalho que mais me diverti na vida, o Lord me deixava fazer e falar o que eu quisesse, pouquíssimos papei são assim. E ‘Chico’ foi um outro mundo que conheci e me apaixonei. Acho que meu musical favorito é sempre o que eu to fazendo agora. Ate porque não tenho mais idade pra ‘Noviça’ e ‘Despertar’, além de recentemente ter machucado o joelho, então o Lord ja não me pertence mais (risos)”.

Em meio a diferentes formas de ver um mesmo trabalho, Felipe acredita que hoje “Broadway” e “Brasil” não são mais realidades tão distintas. “Os produtores que já conhecem nosso trabalho amam o Brasil. A nossa cultura é muito musical e bem diferente da deles, então eles ficam encantados com nossa música, nosso jeito de cantar e nossa energia. Nunca ouvi de algum diretor ou produtor americano que tenha vindo ao Brasil dizer que sua experiência foi ruim. Quando fui chamado pro ‘Chico’ fiquei muito tenso e foi um pouco difícil no começo dos ensaios pois há diferenças com o que eu já conhecia, que era o jeito ‘Broadway’. O brasileiro tem um swing diferente. Mas agora estou bem mais confortável. Quanto ao público, acredito que se interesse por ambos. Só sinto falta de peças com autores e compositores originais no Brasil, conheço poucos que fazem e que pouco espaço tem“, afirma Felipe.

Rapidinhas: Perguntas que não podem faltar!

B!: Quais são seus artistas/ espetáculos favoritos (não necessariamente “musicais”)?

FT: Duas peças – “Death takes a Holiday” e “Bare“.
Artistas – Stephen Sondheim e Audra McDonald

Abaixo, confira um vídeo de especial para o ator.

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=fLLQQyQlesQ]

Essa gravação é especial porque foi duas semanas depois que minha mãe faleceu. Eu fui para os Estados Unidos trabalhar e dividi o palco com Emily Skinner, Cristine Andreas (ambas indicadas ao Tony Awards), Kerry O’malley, Scott Counter e Jeff Danman, todos conhecidíssimos e respeitados na Broadway e cantamos no Town Hall, para mais de 1500 pessoas na Avenida 43, coração da Broadway.

Confira mais vídeos no canal exclusivo do ator.

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