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“Ópera do Malandro” volta aos palcos sob direção de João Falcão

*Por Diana Dantas

Contrabandistas, prostitutas, cafetões, travestis e malandros. Apesar de povoarem o noticiário criminal e terem uma moral duvidosa, esses personagens protagonizam um dos mais queridos musicais brasileiros, a Ópera do Malandro. Composto por Chico Buarque em 1978, em meio ao regime militar, o espetáculo poderá ser visto novamente nos palcos sob a direção de João Falcão. A estreia será hoje, às 20h, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, em grande estilo. A partir de 8 agosto, a peça será apresentada no Theatro NET Rio, em Copacabana.

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Moyseis Marques e Fábio Henriquez vivem o casal de protagonistas de “Ópera do Malandro”

Na história, o contrabandista Max Overseas (Moyseis Marques) se casa em segredo com Teresinha (Fábio Enriquez), filha de Duran (Ricca Barros), um dono de bordéis e cabarés do bairro boêmio da Lapa, na década de 1940. A obra é inspirada na Ópera dos Mendigos (1728), escrita pelo inglês John Gay, e em A Ópera dos Três Vinténs (1928), dos alemães Bertolt Brecht e Kurt Weill. Enquanto acompanha a vida do submundo carioca, o público poderá ouvir canções clássicas de Chico, como Folhetim”, “Teresinha”, “O Meu Amor”, “Pedaço de Mim”, a marcante “Geni e o Zepelim”, entre outras. Além das músicas originais do espetáculo, Falcão ainda optou por colocar no roteiro algumas do álbum “Malandro”, também do compositor, e do filme homônimo de Ruy Guerra (1985).

Uma das novidades dessa atual montagem é o elenco formado por diversos homens e por apenas uma atriz. Além dos papéis masculinos, eles também interpretam os femininos, e a única mulher representa um homem. O conceito, assim como parte dos atores, foi herdado do último musical dirigido por Falcão, Gonzagão – A Lenda. “O elenco de ‘Gonzagão’ acabou formando uma companhia, a Barca dos Corações Partidos, e eles também receberam o convite da produção para fazer o espetáculo comigo. Mas esse motivo é circunstancial. Acho que a ideia de atores interpretando mulheres causa um distanciamento, dá um toque de Brecht que interessa à peça, porque o Chico a escreveu bem inspirada na ‘Ópera dos Três Vinténs, explica ele. O dramaturgo alemão se tornou conhecido por procurar proporcionar um estranhamento no público em suas peças, para, desta forma, causar uma reflexão crítica.

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Elenco do espetáculo, com o estreante Moyseis Marques ao centro

Elenco brilha no palco

Para o papel principal, o contrabandista Max, Falcão optou arriscar e escolheu o cantor Moyseis Marques, que há anos trabalha nas principais casas de samba da Lapa – tudo a ver com o musical. Apesar de ter tido passagem pelo teatro amador, esta é a primeira vez que Marques atua como profissional. Segundo ele, a experiência tem sido um desafio constante, principalmente, em relação à rotina.  “Para a gente chegar nesse resultado, de música, de interpretação, é exigida uma disciplina de quartel, que é algo que não estou muito acostumado. Ensaiamos de 10h às 22h. E ainda tenho show para fazer. Pisei no freio da minha agenda, mas é muito difícil não ir cantar nas sextas”, conta.

Bendito o fruto, nesse caso, entre os homens, Larissa Luz é única representante feminina do elenco. A atriz interpreta João Alegre, que se diz o autor da história. Mesmo fazendo um homem, seu personagem tem figurino e trejeitos característicos de uma mulher. “Ele tem esse objetivo de quebrar paradigmas e confundir um pouco o espectador. Para que a gente pense que Maria não precisa ter cara de Maria e que João não precisa ter cara de João. Hoje em dia a gente tem essa liberdade e o João, o Falcão, se permite isso. Não precisa ser real, nem de ter explicação”, diz ela, que também participou do elenco de “Gonzagão”, substituindo a atriz Laila Garin.

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Larissa Luz interpreta um papel masculino, João Alegre, na montagem dirigida por João Falcão

A maldita Geni, que só serve para apanhar e é boa para cuspir, também é um dos personagens mais fortes da história de Chico. O que poucos sabem é que no espetáculo a protagonista da eloquente música “Geni e o Zepelim” é um travesti, que nesta montagem é feito pelo ator, novato em musicais, Eduardo Landim. Na hora da canção, ele está em cena com alguns outros personagens do espetáculo, porém canta a música da trajetória de Genivaldo praticamente sozinho, em um palco escuro, com apenas os refletores em cima dele. “É um momento bem iluminado, fazendo um trocadilho com a luz [risos]. Esse personagem tão sagaz, perspicaz e esperto durante toda a peça escolhe a parte crucial da trama para, além de debochar um pouco dos que estão ali e o maltrataram, abrir a intimidade. Essa marca no palco respeita muito o texto do Chico. Ele aproveita para se despir.”

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O novato Eduardo Landim dá vida à travesti Geni

Outro ator que chama a atenção no palco é Léo Bahia, revelado no musical “The Book of Mormon”, montado pela Unirio, que foi sucesso de público e crítica. Apesar de ter chamado a atenção na montagem do ano passado, Léo precisou se esforçar bastante para ser escolhido para o elenco. “Teve uma audição que foi fechada. Mas descobri o e-mail do assistente de direção. Escrevi para ele pedindo ‘pelo amor de Deus, tenho que participar! É Chico e também um trabalho do João [Falcão], que adoro! Sou ator, cantor, quero fazer, quero fazer, quero fazer.’ Eles me chamaram para o teste, fiz e estou aqui”, conta rindo da situação. Sobre fazer o papel de Lúcia, a mulher traída de Max, ele diz que ainda passa algumas dificuldades. “A gente está aprendendo a fazer a maquiagem, que com o maquiador leva uma hora. Confesso que ainda preciso de uma ajuda. A roupa é tranquila, apesar de ter muito enchimento, como bunda, coxa e peito. O salto alto é que dói. Tenho que tirar quando chego na coxia. Mas está melhorando, já consigo ficar com ele algumas horas.”

“Ópera do Malandro”

Theatro Municipal do  Rio de Janeiro
Estreia sexta-feira, dia 18 de julho, às 20h
Praça Floriano (Cinelândia), s/nº, centro
Tel.: (21) 2332-9191
Ingressos:
Frisa/Camarote: R$ 500 (R$ 100 por pessoa)
Plateia/Balcão nobre: R$ 100
Balcão superior: R$ 80
Galeria superior: R$ 30
Galeria lateral: R$ 20

Theatro NET Rio
De 8 de agosto a 26 de outubro
De quinta a sexta, às 21h; domingos, às 20h.
Rua Siqueira Campos, 143/2º piso, Copacabana
Tel.: (21) 2147-8060
Ingressos:
Plateia, mezanino e frisas: R$ 150

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