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Marcos Tumura: quando a história pessoal vira a história dos musicais no país


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Marcos Tumura faz parte do “panteão” de atores do chamado “novo boom dos musicais” no Brasil. Desde 1985, o ator têm se dedicado ao teatro musical, sendo lembrado inevitavelmente por vários papéis de destaque da última década, como Jean Valjean e Lumiére das versões brasileiras de “Les Misérables” e “A Bela e a Fera”. Ainda no curriculum de Tumura, estão clássicos como “Miss Saigon”Cabaret”, “Rent” e “Crazy For You”, que estreia amanhã, 16, no Rio de Janeiro.
Ator, empresário, músico, entre outras mil funções e adjetivos que podem se somar à trajetória desse artista completo, conheça um pouco desse encontro de histórias em uma entrevista exclusiva ao B!.

Tumura é natural de Curituba, no Paraná, e sempre gostou de representar. Desde criança participava de desfiles de estudantes nos dias 7 de setembro, jograis e atividades relacionadas a esse cunho artístico. A dança só entra em sua vida bem mais tarde, aos 18 anos, quando estudou e se formou em ballet, fazendo parte do grupo de dançarinos do Teatro Guaíra, e participando de festivais na capital paranaense, mas sua vida muda mesmo no ano de 1987.

“Nesse ano eu fiquei sabendo do teste no Rio de Janeiro para o musical “Splish-Splash e fui com a cara, coragem e pouquíssimo dinheiro no bolso. O máximo que iria acontecer era eu voltar para casa. Acabei passando no teste e em algumas semanas já estava no Rio ensaiando. Assim começou a minha carreira em musicais…”, conta Tumura.

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Consegue achar nosso Tumura nesta foto? FONTE: Arquivo pessoal

Claudia Raia, a fada-madrinha

“Splish-Splash” não abriu a porta apenas para o teatro musical na vida do ator. Foi neste mesmo espetáculo que Tumura conheceu uma pessoa que faria diferença em sua vida e carreira dali para frente: Claudia Raia. Durante sua estadia no Rio de Janeiro para as apresentações do espetáculo, havia rodízios na casa dos atores para cederem abrigo aos colegas de palco, vindos de outros estados. Claudia, na época namorada de Alexandre Frota, fazia parte do elenco ao lado de Lucinha Lins, Cláudio Mauro, Raul Gazolla e Adriana Fonseca. Quando o casal soube das dificuldades do ator, o convidaram para ficar em sua casa, e daí em diante, começaria uma grande amizade – dentro e fora dos palcos.

Poucos anos a frente, mais precisamente em 1990, Claudia e Tumura dividiram os palcos novamente, em “Não Fuja da Raia” (1991), dando sequência a uma série de boas parcerias, como “Nas Raias da Loucura” (1992) e “Caia na Raia” (1995); Mas foi na segunda metade da década de 1990, que as chamadas “grandes montagens da Broadway” chegaram ao Brasil, e trouxeram surpresas e desafios ao ator, que em 1998 estreou o espetáculo “Aí vem o Dilúvio”; Esta montagem, apesar de pouco lembrada hoje, foi decisiva para o sucesso de espetáculos trazidos da Broadway para o Brasil pela CIE, hoje Time For Fun (T4F).

Em 1999, Tumura entra para o elenco do musical que é considerado um dos marcos das incursões da Broadway no Brasil: “Rent”.
No papel de Mr Jefferson, o ator dividiu o palco com outros nomes que hoje fazem história no teatro musical brasileiro, como Jarbas Homem de Mello, André Dias e Alessandra Maestrini.  Mas o destino ainda reservava mais desafios para Tumura nos anos seguintes.

 O primeiro protagonista – Jean Valjean

Com o sucesso de “Rent” no final da década de 1990, São Paulo consolidava sua vocação como celeiro de produções e atores que deixariam sua marca pela grande contribuição nas montagens de espetáculos da Broadway no país. A partir dos anos 2000, sobretudo como a estreia de “Les Misérables”, no antigo Teatro Abril (hoje Teatro Renault), além de Tumura, nomes como Saulo Vasconcelos, Kiara Sasso e Sara Sarres consagraram seus nomes no cenário do teatro musical brasileiro. “Les Mis” trouxe o primeiro grande protagonista para a carreira de Marcos – o icônico Jean Valjean, papel defendido orgulhosamente pelo ator.

“Quando comecei a fazer essas produções da Broadway já estava a mais de 12 anos no mercado, acredito que o maior aprendizado foi ver o formato americano, eles sabem o que fazem, estão no mercado há décadas e são práticos. Gosto disso. ‘Les Misérables’ e Miss Saigon me marcaram muito. São muito especiais para mim. De todos os musicais que vi e participei, Les Misérables continua sendo meu favorito”, confessa o ator.

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Marcos Tumura, Saulo Vasconcelos e Sara Sarras em “Les Misérables”

Após o sucesso da montagem, outra produção internacional chegou ao país para conquistar os brasileiros: o clássico da Disney “A Bela e A Fera”, que chegou à São Paulo, também no Teatro Abril, em 2002, tenso sua temporada estendida até 2003, e uma nova em 2009, tamanho foi o destaque que o musical teve no cenário local. Nesta produção, Tumura interpretou o “candelabro galã” Lumiére, ao lado de Kiara Sasso e Saulo Vasconcelos como o casal de protagonistas da primeira montagem. Os três dividiram os palcos mais uma vez na versão brasileira de “O Fantasma da Ópera”, onde o ator fez o papel de Monsier André, enquanto o “gold comb” Kiara-Saulo deram vida ao Fantasma e Christine Daaé. Ainda na temporada de 2007/2008, outro espetáculo da Broadway veio ao Brasil e contou com a participação de Tumura “Miss Saigon”, que o colocou para soltar a voz no papel do Engenheiro.

O elenco brasileiro de "O Fantasma da Ópera"
O elenco brasileiro de “O Fantasma da Ópera”

Investimento em produções próprias

Não é apenas nos palcos que o ator encontra prazer. As atividades “por trás dos bastidores” sempre despertaram o interesse dele, mas desde 2000 ele foi colecionando conhecimentos em diversas áreas relacionadas ao teatro, desde passagens de som, iluminação e figurinos.

Apenas em 2007, oficializei a Tumura Produções, com ajuda do meu sócio Fred Sposito, que cuida da parte administrativa enquanto eu faço a parte criativa, que envolve coreografias, coach vocal, direção de cena, atuação e direção geral de shows. A  empresa nasceu para oficializar esse trabalho que eu já fazia, é uma produtora que oferece soluções artísticas, ideias criativas para que o evento fique o melhor possível”.

dia felizAlém de apostar em eventos nos últimos anos, o ator continua presente em grandes produções de espetáculos internacionais. Entre as mais recentes, estão as versões brasileiras “Cabaret” (2012) e “Crazy For You” (2013), que marcam o reencontro do artista ao lado de Claudia Raia e Jarbas Homem de Mello. O ator também investiu em produções próprias, menores, com “cores” mais nacionais, como o musical “Dia Feliz”.

Dia Feliz nasceu de um momento em que eu queria fazer algo mais leve, divertido e com base no Brasil. Decidi então homenagear as músicas nacionais do início dos anos 70, que são bem teatrais e que hoje são consideradas bregas, mas todos conhecem. Existe outro projeto, uma comédia chamada ‘De Perto Ninguém é Normal. De longe também não’, em fase de captação, os outros eu ainda não posso falar ainda (risos)”.

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No elenco de “Cabaret”, com Liane Maia

Futuro promissor

Hoje, com mais de 25 anos de carreira dedicados ao ofício de entreter com qualidade, Tumura celebra o crescimento do teatro musical nacional, e faz um espécie de análise sobre todo esse processo positivo.

Quando começamos, lá nos anos 1980, não tínhamos tantos recursos técnicos, havia limitações em relação a isso, os microfones eram de bastão e fio por exemplo… mas o diferencial era que o elenco era preparado, as dificuldades da época faziam os profissionais irem atrás de aprendizado, realmente queriam aprender e não só fazer. No final dos anos 1990 e início de 2000, foi uma época de ouro, o mercado, agora com investimentos altos, reuniu essa galera dos anos 1980, desde da técnica, passando por elenco até equipe de produção, e começaram as grandes produções baseadas na Broadway pela antiga CIE Brasil (agora T4F) e pela Claudia Raia, que sempre investiu com muito amor, louvor e sucesso nesse formato.

Estamos em um caminho bom, a evolução está em não abrir mão da qualidade, tanto de acabamento de cenários, figurinos, roteiro…e claro, valorizar mão de obra. O momento atual é de grande oferta de produções, os jovens profissionais devem investir em aprendizado, não devem achar que estão prontos, o artista sempre precisa continuar o aprendendo. A nova geração precisa focar em aprendizado, não basta querer aprender a coreografia ou fazer aula milagre antes da audição. Não é porque você sabe quem fez tal personagem lá na Broadway, quem compôs tal música que isso te deixará capacitado para fazer um musical.Se quer dançar, vá aprender ballet. Se quer cantar, faça aulas semanalmente. Se quer melhorar atuação, faça teatro. Não pense que só porque fez um workshop que estará capacitado para fazer um musical”

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Cláudio Martins

Há mais de 10 anos, Fundador do A Broadway é Aqui! Jornalista com especialização em Marketing

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