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Alessandra Verney e sua contribuição para o teatro musical brasileiro

Próximo a encerrar a sua longa temporada no espetáculo “Alô Dolly”, Alessandra Verney, a chapeleira Irene Molloy do musical, conta +para o A Broadway é Aqui! como imprimiu sua marca no teatro musical brasileiro, sendo um dos nomes que mais representam o gênero pelo país. A atriz, que inicialmente foi estudante de Publicidade, já esteve presente em montagens de espetáculos como “7 – O musical” , “Império”  e o clássico “Um Violinista no Telhando”, em 2012 Saiba mais sobre a carreira dessa talentosa “cantriz”.
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FOTO:Sérgio Santoian

B!: A princípio de onde veio o interesse pelo teatro? E pela música? Qual chegou primeiro?

Antes da vontade de atuar, eu já cantava, desde pequena. Eu era um tanto tímida e acabei descobrindo através da música um canal, onde eu poderia me expressar. Acredito que meu interesse em atuar veio através da minha paixão pelo cinema. Sempre fui cinéfila e isso, de alguma forma, também despertou a vontade de ser atriz. Sempre fui muito ligada em atuação, lia livros a respeito, métodos, as tragédias gregas, mas não tinha “coragem” de fazer um curso de teatro na minha cidade, que também não tinha muita opção na época. Na adolescência, a paixão por cantar só cresceu e aí veio o desejo de fazer disso uma profissão. A partir dos 17 anos, passei a focar exclusivamente na música.

B!: Você cursava Publicidade em paralelo a sua carreira como cantora. Já se imaginou um dia sendo publicitária?

Jamais (risos).No primeiro ano de faculdade já vi que não era aquilo que eu queria, porém a Publicidade parecia ser uma escolha profissional acessível e que eu poderia ter alguma relação artística através dela. Só que eu estava tentando tapar o sol com a peneira… (risos) Em seguida, comecei a estudar canto lírico e a fazer shows em casas noturnas da minha cidade natal. Aí ficou claro onde estava o meu prazer e que cantar não era um hobby. Continuei na faculdade um tempo ainda, depois tranquei e não retomei mais.

B!: A sua estreia no mundo dos musicais foi em “O Abre Alas”, do Möeller e Botelho. Como você chegou a esse trabalho?

Eu já morava no Rio há quase dois anos, determinada a conseguir um espaço como cantora – e não era nada fácil. Apesar de ter alguns contatos, de ter feito poucos shows no Rio, o caminho era bem difícil. Cheguei até a cogitar uma volta pro Sul, de onde eu tinha saído com uma carreira que estava ganhando reconhecimento lá, tinha até acabado de ganhar o principal prêmio de música do RS, o Açorianos, de Artista Revelação. Justamente quando eu estava pensando em voltar, apareceu O Abre Alas. Enfim, eu nem sonhava que um dia seria possível fazer um musical – e eu amava musicais. Naqueles primeiros anos no Rio, eu estudava canto lírico e popular com Vera do Canto e Mello e tínhamos um grupo de alunos que volta e meia se encontrava em saraus e eventos.
Uma das alunas que me tornei amiga foi a Alessandra Maestrini e ela me disse que teria um teste do Abre Alas, que seria dirigido pelo Charles Möeller e pelo Claudio Botelho. Eles estavam com As Malvadas em cartaz e eu os havia conhecido rapidamente quando fui ver o espetáculo. Comentei com a Maestrini: “Mas eu não sou atriz!” e ela retrucou imediatamente: “É sim, corre pra lá!”. Não acreditei quando o Charles me ligou chamando pra fazer a peça. Era um mundo novo que se abria, pois eu nunca sequer havia feito teatro antes e fui muitíssimo bem acolhida. Foi ali que minha carreira artística tomou outro rumo, bem diferente do meu primeiro objetivo ao chegar no Rio.

B!: Você fez muitos trabalhos com a dupla. Para você, qual é a emoção de ter trabalhado com os dois nomes considerados como responsáveis pelo ressurgimento dos musicais no Brasil?

Sou eternamente grata aos dois por terem visto em mim potencial para me tornar uma atriz de musical e por me incentivarem a investir nessa carreira. Tenho muito orgulho de ter começado com eles, antes ainda da Möeller & Botelho. Hoje eles são uma grande potência, conquistaram seu espaço a partir do seu talento.

B!: Entre os seus trabalhos, está “7 – O musical”, considerado um marco no teatro musical brasileiro. Para você, qual é a sensação de ter participado desse espetáculo?

Foi um grande desafio e uma experiência muito marcante, eu diria, inesquecível. “7” foi construído tijolo por tijolo, com muita troca entre os atores e a direção, além de ter sido um processo maravilhoso, original e de muita entrega. Sem contar, que é um privilégio fazer um personagem escrito para você, com o autor e os compositores presentes.

Foi um grande desafio e uma experiência muito marcante, eu diria, inesquecível. Foi um espetáculo construído tijolo por tijolo, com muita troca entre os atores e a direção. Foi um processo maravilhoso e de muita entrega. Sem contar, que é um privilégio fazer um personagem escrito para você, com o autor e os compositores presentes. Você tem a oportunidade de dar vida aquele personagem pela primeira vez e isso fica pra sempre na história do espetáculo.

B!: Em 2012 você literalmente voou como a personagem “Fruma Sarah” em “Um violinista no telhado, um clássico da Broadway. Como foi essa experiência?


Foi simplesmente maravilhoso. Eu diria, um “sonho de consumo”! A cena era fantástica e eu jamais pensei que um dia faria parte do espetáculo. “Um Violinista no Telhado” tem um lugar especialíssimo no meu coração, pois quando assisti no Rio, fiquei completamente apaixonada pelo espetáculo e encantada com a atuação do José Mayer. Quando entrei no elenco na temporada de São Paulo, fiquei feliz demais. Eu estava ansiosa pra ver como seria fazer a cena voando, ainda mais com um personagem tão diferente de tudo o que eu já havia feito. Sem contar que vocalmente era um grande desafio, assim como toda a logística de bastidores também. Éramos um time, que tinha que fazer tudo minuciosamente para o número dar certo – agradeço muito ao Isaac Tibúrcio (diretor de cena) e à Elaine Danieli (camareira), que todos os dias me davam a segurança e o apoio necessários pra voar no céu de Anatevka. E por falar em Anatevka, era arrepiante entrar em cena toda noite cantando “Tradição”, com aquele elenco enorme, de idades e histórias variadas, todos unidos com o objetivo de contar aquela linda história.

Alessandra Verney como Fruma Sarah, em "Um violinista no telhado" FOTO: Arquivo pessoal
Alessandra Verney como Fruma Sarah, em “Um violinista no telhado” FOTO: Arquivo pessoal

B!: Em sua carreira há quase um equilíbrio entre produções brasileiras e adaptações dos clássicos da Broadway. Qual você mais gosta de fazer?

Não tenho preferência, na verdade. Procuro sempre fazer bons espetáculos e que tenham coerência com o que desejo para a minha trajetória artística. Se o espetáculo tiver qualidade, se me conquistar e se eu achar que posso crescer artisticamente de alguma forma, é o que vale. Procuro sempre desafios, adoro estudar, tentar me superar e me diferenciar a cada trabalho. É o que me move.

Você dividiu o papel de Eva Perón com Paula Capovilla. Como foi fazer esse personagem icônico?

Evita é um personagem muito intenso, cheio de nuances e que exige muita entrega da sua intérprete, tanto física como emocional. Fizemos estudos aprofundados sobre sua vida e trajetória, a fim de ter o máximo de informação possível a seu respeito. Como se trata de um musical 100% musicado e que é muito bem escrito, sua partitura já mostra como é e o que quer da personagem. É possível perceber os sentimentos necessários para cada cena, de acordo com o momento de de vida que a personagem atravessa.

B!: Existe alguma personagem que você guarde no coração como predileto? E algum musical em especial?

Nossa, é uma tarefa difícil destacar um predileto, pois cada um, do seu jeito, teve seus desafios e qualidades. Na maioria das vezes, aprendi muito com os personagens que fiz. Vou voltar, então, ao ano de 2007 e falar da Noemi (de Império) e da Bianca (de 7), que foram feitas nesse mesmo ano e que eram totalmente distintas. Fui muito feliz fazendo esses dois papéis, assim como esses dois musicais, e acho que eles foram um divisor de águas na minha carreira de atriz, pois exploraram um lado meu que até então, eu não havia vivenciado no palco.

B!: Como é contracenar ao lado de Miguel Falabella e Marília Pêra, grandes nomes do nosso teatro?

Várias vezes, me pego em cena pensando no quanto é a realização de um sonho ter a oportunidade de dividir o palco com esses dois mitos. É como estar numa masterclass permanente, a cada espetáculo. Os dois são de uma generosidade e perspicácia admiráveis, estão sempre vivos, jogando com quem contracenam o tempo todo. Não existe “tempo ruim”. Além do que, a gente se diverte horrores e isso certamente contagia o público, que retribui com força total. É simplesmente delicioso e um presente para se guardar pra sempre.

B!: O que a personagem Irene tem de você?

Acredito que, em primeiro lugar, a independência conquistada. Sempre lutei e ainda luto pra conseguir o que quero, dentro dos meus princípios. A Irene é uma mulher forte, que sabe o que quer, mas é também delicada e sensível, que no fundo sonha em se apaixonar de novo. Pra isso, ela está disposta a quebrar as regras da época e acho que ela mesma se contagia com essa “nova Irene” que nasce depois que conhece Cornélio Hackl, um legítimo caso de amor à primeira vista. Acho que assim como ela, acredito que o amor fortalece tudo nessa vida e que também é possível se apaixonar à primeira vista sim! (risos).

Irene Moloy, personagem de Alessandra em "Alô Dolly"
Irene Molloy, personagem de Alessandra em “Alô Dolly” /FOTO: Caio Galucci

B!: Você chegou a fazer alguns trabalhos com jazz. É um dos seus estilos prediletos? Quais gêneros musicais são seus favoritos?

Sim, adoro jazz. Fiz alguns shows mais intimistas focados no estilo e sempre tive muito prazer cantando esse tipo de repertório, pena que não tenha muito espaço no Brasil. Gosto também de MPB, rock, ópera e música clássica.

B!: E sobre o recente boom dos musicais, o que você pensa sobre esse renascimento do gênero?

Fico feliz em ver o Brasil crescendo tão rápido no gênero, em tão pouco tempo. A partir de agora, novas gerações focadas no musical vem aí, assim como novas plateias, que estão em formação. Quanto mais musicais em cartaz, melhor, é bom para todos.

 B!: Aproveitando toda sua experiência e conhecimento no teatro musical, que dica poderia dar aos novos atores e aspirantes?

Que busquem sempre o estudo acompanhado do autoconhecimento e da inspiração, que se aprimorem sempre.

B!: Planos para o futuro que possa contar para nós?

No que depender de mim, muitos planos! (risos) Primeiro, um pouquinho de férias, que não tiro faz tempo. De uns anos pra cá, felizmente emendei um espetáculo no outro, principalmente entre Rio e São Paulo, além de shows paralelos, então vai ser ótimo descansar um pouco. Espero conseguir realizar meu álbum solo, que é um sonho antigo e que ainda não consegui concretizar, por falta de tempo mesmo e estrutura. Tenho convite também pra fazer uma peça de teatro, mas ainda não posso dar mais detalhes.
Para saber mais sobre a carreira ou entrar em contato com a Alessandra Verney, acesse o site: http://www.alessandraverney.com

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Cláudio Martins

Há mais de 10 anos, Fundador do A Broadway é Aqui! Jornalista com especialização em Marketing

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