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Os planos de Reiner Tenente para teatro musical no Rio de Janeiro

reinerReiner Tenente é um dos nomes que mais ecoa neste momento do teatro musical brasileiro. Após ter surpreendido o público pela sua performance em “Tim Maia – Vale Tudo“, o ator engatou em outro trabalho que ama tanto quanto atuar: ensinar. Reiner, que é formado em Artes Cênicas pela Unirio (RJ) e pós graduado em Preparação Corporal para as Artes Cênicas, foi o responsável pelo treinamento dos atores de “Rock in Rio – O Musical”. Em 2013, ele se prepara para dar continuidade a seus projetos paralelos, como os seus workshops e abrir as portas do Instituto Brasileiro de Teatro Musical,(IBTM) uma escola no Rio de Janeiro para profissionais que se  interessam pelo gênero.

A ideia partiu do empresário Fábio Gonçalves, apaixonado por musicais, que propôs uma sociedade com Reiner. A sede do instituto, no bairro do Flamengo, quase em frente a conhecida escola de dança Angel Viana está em reforma. Após aberto, abrigará instalações para formar atores, músicos e dramaturgos especializados no teatro musical. A princípio, serão abertos os cursos apenas para atuação, enquanto as aulas para os outros profissionais virão em um momento mais a frente.

“Eu sonhava que pudesse existir uma escola dessas no Brasil. Mas como não houve antes, eu vou lutar para  o IBMT ser a escola que eu sempre quis estudar. E não é papo demagógico, porque a minha paixão por estar no palco atuando é tão intensa quanto a que eu tenho pela educação. Mesmo sendo inspirada nos moldes das escolas americanas, o instituto irá manter as características da identidade brasileira, com professores que dominem tanto o belting,  quanto o cantar e o repertório de musicais nacionais”, diz Reiner.

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Prédio que sediará as instalações do Instituto Brasileiro de Teatro Musical, na rua Clarice Índio, próximo a escola de dança Angel Viana
Crédito: Arquivo pessoal

Paixão pela educação

A paixão pelas artes começou cedo na vida de Reiner. No início de sua adolescência, o ator fez aulas de escultura e pintura, mas foi o teatro que o atraiu com mais força. Mesmo enfrentando os questionamentos da fase, a insegurança na escolha da carreira, decidiu prestar vestibular para a Unirio, no Rio de Janeiro, universidade que veio a frequentar a partir de 1998. Foi depois de receber um convite para preparar um grupo de amigos para audições de comerciais, que o seu interesse por compartilhar o conhecimento foi despertado. Tal interesse iria guiar não apenas a sua formação (Reiner fez licenciatura em Artes Cênicas), como a sua pós graduação e criação de seu próprio método de trabalho, apresentado em seus workshops.

O primeiro musical que o ator fez e guarda no coração como uma memória inesquecível foi uma montagem acadêmica de “Roda Viva”, de Chico Buarque, em 2003.  A apresentação foi tão bem executada que chamou a atenção de produtores para colocá-la no circuito comercial, com planos para exibição no Teatro Glória. Contudo, o projeto não pode ser levado adiante, não por falta de capacidade técnica e talento, mas por uma questão burocrática: mesmo depois de muita insistência, sob pressão da mídia, o autor da obra não liberou os direitos para comercialização do musical. Em seguida vieram outros trabalhos em teatro bem sucedidos, como “Guernika”, Fernando Arrabal, e “Tip Tap, Ratos de Sapato”, espetáculo infantil que envolvia sapateado, com direção de Ronaldo Tasso, um dos destaques de sua carreira. Mas foi em Tim Maia que Reiner viu seus projetos concretizados.

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Tiago Abravanel e Reiner Tenente
Crédito: Caio Galluci

“Eu levei 15 anos até conquistar o trabalho que se encaixou com tudo aquilo que eu sempre quis fazer, com o diretor que sonhei trabalhar  (João Fonseca), com um elenco com as características que eu busquei em relação ao cuidado com o texto e o salário que todo artista quer. O convite, veio após a indicação de Nello Marrese, cenógrafo com quem trabalhei antes e que também é responsável cenografia de Rock in Rio. Eu falo para os meus alunos que quando você tem o objetivo e o persegue com prazer e com dedicação, talvez  passe perrengue no início, talvez durante muitos anos, mas na vida tudo é causa e efeito. Se você faz o seu trabalho com dedicação, uma hora ou outra isso vai te render alguma coisa”, comemora o ator

Evolução do teatro musical brasileiro

Tim Maia foi o primeiro espetáculo musical de João Fonseca a ganhar repercussão nacional, por se tratar de uma figura como o inesquecível cantor. Ainda este ano, estão previstas  produções com linhagem semelhante, como “Clara Nunes”, “Cássia Eller” e “Cazuza”. Para Reiner, estes musicais representam uma fase da evolução do gênero no Brasil, assim como o “Rock in Rio”, que mesmo não tendo um personagem, trata de uma marca e apresenta fórmula semelhante

“Quando a gente importa um musical estrangeiro, ele já tem um nome, uma história, um carimbo ‘Broadway’ que os brasileiros crescem os olhos para aquilo. Essa marca já deixa as pessoas tendenciosas a consumir o produto, mesmo que seja para depois se arrepender. No caso de produções brasileiras, principalmente quando é um musical autoral, as pessoas não compram a ideia de cara. Então, o trajeto do teatro musical brasileiro inclui essa fase, a gente tem que passar pelo biográfico, é o nome do artista que vai puxar o olhar do público para o espetáculo.“.

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O ator também acredita que os musicais no Brasil ainda tem outro desafio a vencer: superar o estigma de entretenimento dentro dos meio acadêmico. Segundo o ator, a origem dos musicais, o “showbusiness” acaba interferindo na concepção dos estudiosos que acabam marginalizando gênero. “Hoje esse pensamento começa a mudar um pouco, já é possível ver muitos musicais sendo produzidos dentro da Unirio e está melhorando cada vez mais. O musical pode ser apenas entretenimento ou não, não é uma regra mas independente disso teatro musical antes de tudo é teatro, esclarece.

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Ainda sobre o fato de seu mais recente trabalho, “Rock in Rio”, ter sido encomendado, Reiner esclarece: “O Rock in Rio nasceu do encontro de interesses da família Medina com os diretores da Aventura Entretenimento, que possuem o know how de produzir musicais. O espetáculo não conta a história do festival, na verdade o tem apenas como pano de fundo para uma determinada trama. É possível algo ser comercial e ser muito bom! Existem vários artistas que suas obras valem milhões, porque no teatro musical também não pode ser assim? Uma coisa não elimina a outra”

Método próprio de trabalho

Em sua pesquisa, Reiner percebeu que no Brasil, as vezes muitos atores não estão completamente preparados para encarar o teatro musical. Há ainda questões como convites para cantores trabalharem nos espetáculos do gênero, sem nenhuma preparação no campo da atuação. Com bases nessas observações o ator e professor criou um método que consiste em alinhar a interpretação corporal da voz falada com a voz cantada. Essa metodologia é a mesma que ele aplica em seus workshops e também foi o  mesmo método usado para prepara o elenco do “Rock in Rio”.

“No musical a música é encarada como texto. O que se nota as vezes no Brasil é que, por uma tensão ou necessidade de mostrar um talento, durante a execução, há uma quebra entre a voz falada e a voz cantada na construção dos personagens. Quando se é uma escolha profissional, tudo bem, mas quando é por falta de técnica e apuro do ator, aí está o problema”.

Após fazer um curso recente de teatro musical da New York Film Academy, durante o mês de janeiro, Reiner observou que o mercado brasileiro também evoluiu em relação à preparação do artista. Em sua opinião, durante o início de carreira, na segunda metade dos anos 1990, talvez fosse preciso para algum ator buscar uma formação no exterior, mas hoje em dia, todo o conhecimento passado pelos profissionais lá de fora já pode se encontrado no Brasil.

Talento não existe

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Programação do Ateliê Artístico do Rio, incluindo o curso oferecido por Reiner Tenente, Danilo Timm e Alan Rezende

Com o aquecimento desse mercado no país, surgem inúmeros  cursos e oficinas, alguns  produzidos por profissionais que não estão plenamente capacitados para treinar os atores no gênero musical. A saída, segundo Reiner é ir atrás do histórico da pessoa que está oferecendo aquele curso,conhecer seu histórico enquanto artista e professor, ver com colegas que já participaram da oficina se foi satisfatório. Mas antes de tudo, é preciso saber se naquele momento, o curso será realmente necessário para a formação do ator ou se talvez seja melhor investir em apenas uma área específica, como a musicalização ou dança.

Em 2013, o ator pretende continuar em seus workshops, até a abertura do IBTM. O próximo será realizado no dia 19 de março e contará também com aulas de Danilo Timm, Alan Rezende e Felipe Habib no Atelier Artístico do Rio. Antes disso, nos dias 11 e 12, Reiner realizará a segunda edição da oficina “Teatro Musical“, em Belo Horizonte, organizado por Suellen Ogando.

Sua participação no espetáculo Tim Maia está garantida, e segundo ele, deverá haver outra turnê do musical pelo Brasil, com planos de visitar outras cidades em que a peça ainda não foi apresentada.

Para quem está começando a carreira, o ator acredita que o empenho nos estudos é a chave. “Eu não acredito em talento. Acredito que algumas pessoas tem facilidade para determinada tarefa. Mas aquele que não tem facilidade, com determinação e afinco, pode alcançar um nível tão bom qualitativamente ou melhor, do que o ator que possui aquilo que chamamos de talento. Muitas pessoas já disseram isso, mas a transpiração é mais importante do que a inspiração.”

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Cláudio Martins

Há mais de 10 anos, Fundador do A Broadway é Aqui! Jornalista com especialização em Marketing

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